Azevedo: terno sobre o corpo, mas sem pingo de ternura para com os "inferiores"
Antes de mais tudo, o essencial: em artigo escrito em 04 de novembro último em seu blogue (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/blog-da-dilma-nordestinos-nao-sao-bestas-como-os-paulistas/), o colunista de Veja, Reinaldo Azevedo, afirma que o Blog da Dilma "nunca foi admitido como parte da rede oficial pró-Dilma". Sem querer ele encontrou, aí, o elo perdido entre o Blog e Veja, onde atua. A única nota destoante é que, no caso da revista, ela nunca foi admitida como parte da rede oficial pró-Serra. De resto, sua análise cai como uma luva em seus próprios arrebaldes.
Azevedo pontua sua dissertação com um encadeamento de simplismos chinfrim. Espera-se de alguém que escreva numa revista tão vendida - sem aspas - conhecimentos gerais que incluem, óbvio, psicologia. Em qualquer manual da área consta que o ego se defende das agressões vindas do meio muitas vezes de forma reflexiva. Em suma, o bom e velho "quem bate esquece, quem apanha não". Azevedo defende as palavras da "moça paulista", preconceituosas sim, em caixa alta-alta, como se ela fosse impávido colosso, deitada eterna e tranquilamente em seu canto, e petistas chegassem do nada para atrapalhar seu sono plácido. Que fique bem claro: viva São Paulo, viva o Brasil todo. Mas morte à xenofobia, seja onde for.
O colunista sabe, no fundo, que ela e ele próprio estão errados, e que a reação no Blog da Dilma e na "rede suja" (como ele descreve) da internet é mais do que plausível. Sujo é, acima de tudo, valer-se de um semanário que é diário oficial dos governantes brasileiros do período 1500-2002 para instigar de forma muito mais intensa e ampla a divisão. Não custa pensar: o único momento em que ele pode experimentar um pouquinho da xenofobia na pele é quando viaja a Nova York ou Paris e é rotulado como "jornalista brasileiro" ou simplesmente "brasileiro". Mas sofrer isso num café em Manhattan ou andando numa tarde de verão por Champs Élysées é sempre menos pior, eu também quero. Difícil é escutar isso enquanto se trabalha duro, desde antes do nascer do sol, para construir (literalmente) as bases do país. É estatisticamente bem provável que o apartamento ou casa onde Azevedo more não tenha sido erguido por mãos da mesma São Paulo "vítima de preconceito" por parte dos "carniceiros". Talvez o porteiro também não seja paulista como ele. Mas isso é chover no molhado - recorro aos clichês somente para recordar que o que a "moça paulista" escreveu é somente mais uma das milhares e diárias demonstrações de ingratidão por parte de uma minoritária e infeliz banda podre da elite paulista, à qual o colunista adere com um sorriso no bico de Ramphastos Toco - ou melhor, no rosto. Novamente, viva São Paulo e o Brasil. Mas novamente, também, morte à xenofobia, seja onde for.
No fim do post, Azevedo insere uma enquete, a cereja do bolo. Segue abaixo, literalmente:
"O filme sobre a vida de Lula já era. Nem a distribuição de ingressos está ajudando. Vamos ajudar esse filho do Brasil? Como fazer o filme bombar?
1 - Combo Povo Popular: cada espectador terá direito a um kit com sanduíche de mortadela, tubaína e uma dose de 51;
2 -  Sorteio de ingressos para visitar a sala onde começou a nascer o fim da heteronormatividade, conforme quer Vannuchi: a cela do Dops em que Lula e outros se acotovelavam com o “Menino do MEP”;
3 -  Sorteio de uma carona num dos jatos da Presidência da República; o risco é ter de viajar com um dos “ronaldinhos” de Lula e seus amiguinhos;
4 -  Exemplar autografado da autobiografia de Lula: “Nasci banguela e analfabeto, mas venci”;
5 - Distribuição de adesivos com a seguinte frase: “Depois do cara, fique com a coroa"
Figueiredo, em sua preferência ao cheiro de cavalos ao do povo, ao menos era mais claro. Que brasileiros analfabetos, banguelas, pessoas que se alimentam com mortadela e tubaína, que bebem 51 para tentar esquecer que são tratadas como seres inferiores pela cafona elite brasileira e que chegaram a ser presas em celas do DOPS leiam ou tenham acesso à pra lá de infeliz coluna. O problema de Azevedo e Diogo Mainardi é um só: Paulo Francis - que para todos os efeitos era original em seu conservadorismo - morreu. E tentar substituí-lo é bobabem. Pior - tem um quê de ridículo infantil.
Escrito por Privatizinho - novo editor do Blog da Dilma - andreassis@ymail.com