segunda-feira, 30 de maio de 2011


| 30/05/2011 | 22h20min

Governador é vaiado por professores em Lages, na Serra catarinense

Professores fizeram manifestação em frente ao centro de eventos onde Colombo receberia homenagem

O governador Raimundo Colombo foi vaiado por professores da rede estadual de ensino na noite desta segunda-feira na entrada de um evento em Lages, na Serra catarinense.

Os profissionais da educação fizeram uma manifestação em frente ao centro de eventos onde Colombo seria homenageado com o troféu Orgulho Serrano, ofererecido pela Fundação Carlos Jofre do Amaral à 16 personalidades de destaque na região.

Cerca de 100 professores participaram do ato que começou em frente a Câmara de Vereadores de Lages no final da tarde. Munidos de apitos e buzinas, os manifestantes carregavam faixas com dizeres como "Serrano que é serrano cumpre a Lei" e "O professor na rua, Colombo a culpa é sua".

Para entrar no local o governador precisou passar entre os manifestantes que o vaiaram. Visivelmente constrangido, ele falou com algumas pessoas e chamou quatro professores para uma conversa que durou cerca de 30 minutos no interior do centro de eventos.

Colombo admitiu que o salário dos professores precisa ser melhorado e disse que o governo vai pagar o piso, mas não o valor pleno, pois este daria um impacto de R$ 108 milhões por mês aos cofres do Estado. Disse ainda, que nesta quarta-feira terá uma audiência com o Ministro da Educação, Fernando Haddad, para tratar do assunto, em Brasília.

Os professores chegaram por volta das 20h ficaram cerca de uma hora em frente ao Centro Serra.

Segunda-feira marcada por manifestações

Nesta segunda-feira a greve dos professores estaduais que querem a implementação do Piso Nacional da Categoria, completou 13 dias. Houve manifestações em vários pontos do Estado. 

Em Florianópolis, a professora Amanda Gurgel que ficou conhecida depois de fazer um discurso inflamado sobre a educação mostrado ao Brasil por meio do Youtube e do Twitter, deu uma palestra na Praça Tancredo Neves, em frente à Assembleia Legislativa.

No final da tarde os professores fizeram uma passeata que saiu da Praça Tancredo Neves e terminou na Avenida Paulo Fontes, no Centro.




Confira trechos do depoimento da professora Amanda Gurgel em audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte 

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), a adesão à greve em SC está em torno de 92%. Seriam aproximadamente 630 mil estudantes sem aulas.

DIÁRIO CATARINENSE

OBA!!! MAIS APOIO A NOSSO FAVOR. OBRIGADA A UFSC....
VAMOS ADIANTE MINHA GENTE...
 
 
LEIAM COM ATENCAO
 
30/5/2011 - Nota do MEN/UFSC em apoio a greve dos educadorescondena autoritarismo de ofício da SED
Os professores do Departamento de Metodologia do Ensino, do Centro de Ciências da Educação da UFSC, solidários aos professores da Rede Estadual, seus colegas e principais parceiros na importante tarefa de formar os professores para as escolas públicas do país, vêm a público denunciar e repudiar as ameaças de retaliação ao Movimento Grevista representadas pelos termos de uma circular da Secretaria de Educação e Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – SED (Ofício Circular nº 691/11/DIDH/DIEB), assinada pela Diretora de Desenvolvimento Humano Elizete Melo e pela Diretora de Educação Básica e Profissionalizante Gilda Mara, na qual o autoritarismo e a falta de vontade em cumprir a Lei do Piso Nacional da Secretaria de Educação ficaram evidentes para toda sociedade catarinense.

Encaminhada aos diretores e diretoras de escolas, a circular, bem ao gosto dos tempos mais autoritários da história do país, exige uma relação diária dos nomes de professores, assistentes pedagógicos, técnicos pedagógicos, diretores e assistentes de direção em greve. Não bastasse isso, proíbe a realização de reuniões, assembléias e outras atividades de greve nas dependências das escolas; determina 1/3 de falta para os educadores que estivesse ministrando aulas de apenas 30 minutos, conforme fora deliberado na Assembléia dos professores liderados pelo SINTE, e, para assustar os que ainda não são do quadro permanente, logo, os mais fragilizados, afirma que não recontratará os ACTS que neste momento estiverem paralisados e apoiando a greve da categoria.

A circular também prevê medidas administrativas contra os diretores/as ou funcionários/as que se negarem a emitir as listas de grevistas, afirmando que as gerências de ensino devem fiscalizar o cumprimento das ordens da SED.

Indignados pela ousadia dos termos das referidas circulares e entendendo que o momento histórico não comporta mais tais atitudes claramente autoritárias e desrespeitosas ao conjunto dos professores estaduais legitimamente em luta pela aplicação da lei do piso salarial para a carreira do magistério, os professores do MEN decidiram fazer as seguintes considerações a respeito do Movimento ora deflagrado e encaminhá-las às autoridades competentes.


Como vem acontecendo em sucessivos inícios de ano letivo, em muitas escolas do estado as aulas começaram com muitas precariedades, conforme atestam as mais variadas matérias na mídia tanto escrita como televisiva. Faltam professores e funcionários, os prédios estão mal conservados, há sobrecarga de trabalho em todas as funções, entre outras mazelas com que a comunidade escolar tem que se haver cotidianamente para continuar ofertando os serviços educacionais que dela se esperam.



Não bastasse esta situação caótica, comprometida ainda mais pela crescente violência que vem assolando as escolas e perturbando a convivência de alunos, pais, funcionários e professores, o governo do Estado de Santa Catarina, desde a aprovação, em julho de 2008, da Lei do Piso Nacional Salarial para professores da educação básica, insiste em descumpri-la: primeiro, acompanhando os Estados de Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul numa ação de inconstitucionalidade da referida lei; depois, ao perder a ação no Supremo Tribunal de Justiça -STJ, tentando incluir no piso os abonos salariais e todas as gratificações que por ventura houvesse na carreira do magistério. Também continuou questionando a existência das horas remuneradas (um terço da carga horária) para estudos, preparação de aulas, correção de trabalhos etc. cláusula constante da lei do piso.

Com todas essas agressões ao direito e à justiça, era de se esperar que os professores reagissem à altura. Nacionalmente, com a liderança da CNTE, e em cada estado, com os sindicatos locais – aqui em Santa Catarina o SINTE- os professores deflagraram a mais forte greve da categoria nos últimos anos. Com o apoio quase unânime da sociedade, é impensável que ficássemos calados face às ameaças “fora de lugar” que a SED/SC resolveu por em curso.

Os professores do MEN, então, conclamam todos os colegas e dirigentes do CED e da UFSC – o maior e o mais qualificado centro de formação de professores para o Estado de Santa Catarina, que exijam das autoridades constituídas um voto de repulsa às referidas circulares, solicitando que sejam imediatamente abertas negociações visando ao atendimento das justas reivindicações dos colegas professores estaduais em greve, muitos dos quais, certamente, nossos ex-alunos.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

(Jornal Notícias do Dia)A postura da deputada Ana Paula Lima e da Bancada do PT em relação ao não cumprimento da lei pelo Governo do Estado de SC, que se recusa a aplicar o Piso Nacional Salarial dos Professores, tem repercutido nos meios de comunicação. Abaixo, a íntegra da nota da coluna do jornalista Paulo Alceu, no Jornal Notícia do Dia, nesta quinta-feira(26/05):
"A bancada do PT, que representa a oposição na Assembleia está aproveitando o momento para fazer a diferença. Lotou ontem as galerias de professores e não perdoou o governo do Estado atacando a Medida Provisória que abastece uma parte do magistério com o piso. Enquanto isso os deputados da base governistas tentam reativar as negociações evitando desgastes desnecessários, pois a greve ganhou a simpatia de novos segmentos da sociedade."

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Educação quer mais!



Professores fazem manifestação na Assembleia Legislativa. Deputada Ana Paula reitera seu apoio à categoria.

Ana Paula afirma que a proposta do governo põe fim a carreira do magistério catarinense. Ela lê em plenário carta de uma professora que resume a angustia e a indignação da categoria.

Nas manifestações professores questionam o governo estadual.

Fotos: Fábio Queiroz/Alesc

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Comentario meu, postado no jornal local


Comentário: Sou professora a quase 30 anos.
Portanto gostaria de dizer que não tivemos governo no estado de SC que nos respeitasse. Fizemos greve com o AMIM sim, nada de poucos dias...teve antes de 2000, que também foi de mais de 50 dias...
Não tenho saudade de nenhum dos governadores que passaram no nosso estado.
Se um deles ao menos nos tivesse dado devido valor, por certo hoje estaríamos muito melhor.
Queria dizer também que em 2000 conseguimos a promessa do vale alimentação, porque somente foi efetivado no ano seguinte.
Pra ser mais exato no governo anterior do governo Amim, este Vale que nem vale nada (132 reais ) quando não há feriados ou férias...ou licença médica ou prêmio, tinha sido nos dado, por decreto.
Ao assumir o governo,o então governador Amim cortou, porque não poderia ser por decreto e sim como lei. Só que demorou 2 anos pra por em prática.
Sou professora pública estadual, desde que comecei minha carreira. Filha de uma professora estadual. Desde os meus 14 anos vivo e convivo com a escola...Por opção minha sou professora que nunca abandonou a sala e nem a rede. E dentro dela não visei apenas salário , mas sim uma escola de qualidade.(este também  é o objetivo da maioria dos meus colegas)
É com tristeza que tenho visto que nos últimos anos (e a cada ano piora) a falta de professores nas escolas do estado.
Logo estou saindo e poderei complementar minha renda com outra coisa. E, meus alunos hoje terão professores no futuro? Os seus irmãos menores? Uma boa remuneração só não garante uma boa qualidade, mas por certo é o primeiro passo para ter profissionais competentes. Por isso a importância do apoio da sociedade. Não é um problema apenas dos professores, tornou-se um problema social.
Senhores pais, vocês tem o direito de uma escola de qualidade para seus filhos...nos cobrem o que for de nosso dever, e nos apóiem no que for de nosso direito.
O piso é uma conquista de 2008, não nos peçam para termos mais paciência...o Supremo julgou e nos deu ganho de causa.Que o Governo seja responsável como nós cidadãos comuns, que somos obrigados a cumprir as leis, ao contrário, respondemos com penalizações.

sábado, 21 de maio de 2011

Etecs e Fatecs reivindicam melhores condições de trabalho em manifestação na Paulista


Depois de uma semana de greve, professores, funcionários e estudantes de Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho nessa sexta-feira 20 (confira matéria sobre greve e políticas de bonificação). A concentração ocorreu no vão do Masp, na Avenida Paulista, e reuniu cerca de 800 pessoas, segundo a Polícia Militar. O protesto seguiu até a rua Bela Cintra, onde fica a Secretaria do Desenvolvimento, pasta responsável pelo Centro Paula Souza.
Professores e funcionários pedem novas negociações com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Em reunião, Alckmin propôs 11% de reajuste salarial e 60 dias para elaborar um novo plano de salário, mas a oferta foi rejeitada pelos grevistas, que prometem continuar parados. Trabalhadores das Etecs e Fatecs dizem que não recebem reajuste desde 2005, data posterior à greve de 80 dias ocorrida em 2004.
Além de reajuste, o movimento também reivindica mais benefícios –os professores ganham hoje 4 reais de vale-alimentação – e um plano salarial, que inexiste desde a entrada do governo PSDB no Estado de São Paulo. “Queremos reajuste e estabelecimento de uma política salarial. Precisamos repor perdas resultante desses 6 anos sem aumento. Funcionários tiveram perda de 70% e professores de 58%”, diz Salvador dos Santos Filho, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps).
Professores das Etecs recebem 10 reais por hora/aula, enquanto os das Fatecs, 18 reais. A greve já teve adesão de 60% a 80% das unidades, segundo sindicato, mas Salvador prevê novas adeptos depois da manifestação. As Etecs e Fatecs sofrem com evasão de professores e funcionários que buscam melhorar de vida em outros empregos.
MalabarismoUma das manifestantes sugeria em cartaz uma profissão bem mais rentável. Carla Keiko, malabarista e professora das Etecs Carlos Campos e Camargo Aranha na capital, afirma que é possível ganhar muito mais em uma hora de malabarismo no farol (entre 60 e 70 reais) do que como professora da Etec. Para complementar a renda, muitos professores e funcionários exercem outras profissões. A própria Keiko trabalha de bar tender durante a noite. “Os alunos até brincam, perguntando se a gente trabalha”, conta.
Durante a concentração, os participantes fizeram um minuto de “barulho” pela morte de estudante na USP na quarta-feira 18.
Saldo do mês está acima da média, que é de 251 mil
Jornal Metas
Ministro Lupi entende que a geração de empregos em abril mostra que o mercado ainda está aquecido / Foto: Marcello Casal Jr./ABr
O Brasil gerou 272.225 empregos formais no mês de abril, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados hoje (17) pelo Ministério do Trabalho. No mês, foram admitidas 1,774 milhão de pessoas e 1,502 milhão foram demitidas. Os números de admitidos e de demitidos são os maiores da série histórica, que teve início em 1992. O saldo do mês está acima da média para meses de abril, que é de pouco mais de 251 mil.
Segundo o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o saldo de geração de empregos mostra que o mercado ainda está aquecido.
“A economia está aquecida e a rotatividade está muito alta. Há muito emprego temporário e também há a questão da safra no Nordeste.”
Em março, foram registrados pouco mais de 92 mil novos empregos, um dos resultados mais baixos para o período. Em abril do ano passado, o país gerou mais de 305 mil novos empregos, o segundo maior saldo da série histórica para meses de abril.

Meu jeito de ver e sentir

Vários assuntos em pauta na Sociedade Brasileira,
bastante polêmicos.
Não vou citar nenhum deles, a lista seria interminável.
Isso é bom, porque nos põe a pensar, a refletir.
Ausências, omissões, devemos mesmo, desestimular.
Discussões, debates, podem transformar, ainda
que, a longo prazo.
O senso de responsabilidade deve ser despertado.
Todo valor construtivo no cotidiano de cada um,
independendo de credo, filosofia, raça, enfim...
precisa ser trabalhado.
Quando eu era pequena, ouvia dos mais velhos a
seguinte frase: Sua cabeça é o seu guia.
Mas, não ia além disso, não havia diálogo.
Eu não conseguia entender exatamente o
significado da frase.
As coisas eram muito diferentes, a gente romanceava
a vida em todos os sentidos.
Atualmente, vejo o mundo como uma poesia irritada.
Não tenho mais filhos pequenos.
Mas me intriga que pais e responsáveis venham atribuindo
às escolas, que deve dar escolaridade, cultura, formação,
a educação dos seus filhos.
O fato de família ter uma, digamos, nova roupagem,
não impede, na minha opinião, que os adultos passem
às suas crianças, orientações positivas, de maneira que
elas nunca tenham que se envergonhar, por exemplo,
de pensamentos e atos que venham praticar ou tenham praticado,
trabalhando assim na construção de cada caráter.
Fitar o futuro de alguém, fitar o futuro do nosso país,
é realizar um futuro promissor, absolutamente possível.
Penso que "os tempos são chegados".
Que isso tudo representa a fase de transição que vivemos.
Adversidades e esperanças, mas o desejo de dias
melhores, relatam claramente, principalmente nos noticiários,
através dos ibopes, através da velocidade da internet, etc...
quadros quase indecifráveis, incompreensíveis, de todo
gênero, dada a escolhas de caminhos que arruínam.
Atitudes alucinadas, sinistras, entretanto,
removíveis se nos empenharmos,
em mantermos a auto-estima, o amor ao próximo.
Compreender pra sermos compreendidos, respeitar
para sermos respeitados, evitaria muitos desgostos.
Ou o homem vai continuar se arrastando, ferido,
e ferindo.
Com o ferro de passar corrigimos dobras do vestuário.
Com o da boa vontade, podemos inspirar falanges
valiosas e enfatizar vocações, apaziguar os
corações aflitos que afligem.
O que se tem visto são ardências de comentários,
quase sempre tão agressivos quanto fatos
agressivos consumados.
As soluções estão nas mãos de todos.
Colaborar com o bem geral, ajudar, é bem melhor que
precisar de qualquer tipo de colaboração ou ajuda.
Quem não deseja ter além de só cobrar bons resultados?

Cecília Fidelli.

segunda-feira, 16 de maio de 2011


Utópicos sim, por favor

O educador espanhol César Muñoz Jiménez defende maior participação das crianças nas decisões da escola e da vida familiar. Foto: Bruno Huberman
O senhor que entrou na sala da sede do Itaú Cultural vestindo uma camisa listrada, para -receber a equipe de Carta -Fundamental, tem ideias muito diferentes de educação em relação ao que estamos acostumados a ver e ouvir. Normalmente é chamado de utópico, mas para ele isso é um elogio. “Adoro ouvir isso, é apaixonante tentar uma educação diferente em um mundo baseado em mentiras”, afirma. O educador espanhol César Muñoz Jiménez, consultor internacional em infância e juventude e referência na União Europeia, esteve no Brasil para uma série de palestras e eventos do Itaú Cultural em abril. Sua especialidade, a educação integral, refere-se ao sentido amplo de integralidade, que esboça todas as frentes psicológicas do ser humano, e não simplesmente à aula que ocorre o dia todo. Nesta conversa, César Muñoz falou sobre sua teoria da Pedagogia do Cotidiano e das experiências que teve como consultor dos sistemas de ensino municipais de São Paulo (SP) e Fortaleza (CE). E elogia muito a educação infantil de Porto Alegre (RS).
Carta Fundamental: Há várias definições sobre educação integral. Como o senhor compreende esse termo?
César Muñoz Jiménez:
Em primeiro lugar, penso ser necessário separar os conceitos. Há a “educação” e há o “integral”. Entende-se por educação, na cultura dominante internacional, o “conduzir o outro”. E eu não estou de acordo com ele. Para mim, a educação tem de ser um sério jogo de sedução, amor e paixão. Dizer isso nesses termos é polêmico, mas sempre tive a clara ideia de provocar. A criança jamais vai gostar da aula se não se sente querida, seduzida. Se o ato de educar refere-se apenas a uma simples transmissão de conhecimento, sem haver sentimento, não quer dizer muita coisa. Este seria um primeiro conceito de educação.

CF: E quais seriam os outros?
CMJ:
Há vários, que também não fazem muito sentido. Dizem, por exemplo, que educação é convencer o outro para que ele entenda o que se está dizendo. Há o espaço em que só há uma voz, o professor fala e os estudantes ouvem. Para mim, o fundamental para um educador é saber captar o murmúrio do aluno para entender o que se passa com ele. Os profissionais estão acostumados com o que impõe a cultura dominante, de que existem dois pilares para se educar: a palavra e a conduta.

CF: E o que seria a junção com o “integral”?
CMJ:
Por educação integral entenda-se aquela que procura discorrer sobre todas as particularidades que os seres humanos possuem. Seria a educação em sua integralidade, cuidando do corpo, da mente, dos sentimentos, dos desejos. Fazer a criança se manifestar. Se basearmos nossa educação exclusivamente na palavra e na conduta da criança, deixamos muita coisa de lado, gerando deturpações. Professores classificam como estudante inteligente aquele que fala bem na aula e tem boa conduta. Mas, antes da linguagem, há expressões mais autênticas que permitem captar o murmúrio do corpo. É tarefa do professor conectar a linguagem ao sentimento, entender como as crianças pensam, como relacionam a vida delas à aula, como se comportam com um imprevisto – muito se conhece de uma pessoa através da maneira como ela se comporta em uma situação não planejada. Acontece que, ao se explorarem somente a palavra e a conduta, a criança cria artifícios para se adaptar àquilo, criando uma rede de mentiras, que, hoje, é o caminho para ser adulto em nossa sociedade.

CF: O que o senhor define exatamente como “rede de mentiras”?
CMJ:
Funciona assim: um ser humano que não se sente compreendido tende a não dizer o que sente. Ele vai atuar como gostariam que ele atuasse, vai dizer o que o professor gostaria de ouvir, para não haver conflitos. Um ser humano criado sob esse prisma falso não pode ser bem educado, não vai poder chegar nunca a uma educação integral. Não estou esperando que uma criança invente a pólvora em sala de aula, claro, mas é possível explorar sua criatividade. Se uma criança que não costuma prestar atenção à aula, de repente, quando o professor aborda determinado assunto, se vira a ele e fica fascinada com aquilo, é sinal de que o professor deve trabalhar aquilo. Foi um sinal de que a paixão pode ser despertada, é uma mudança importante.


"Quando uma criança que nunca se manifesta de repente se encanta por um assunto abordado pelo professor, é sinal de que esse professor precisa investir naquele assunto com ela". Foto: Silvia Zamboni/Folhapress

CF: E onde entra o aspecto da bagagem cultural na educação?
CMJ:
É um dos pontos que fazem parte de uma educação em sua integralidade. Dei cursos em uma escola de língua espanhola no Marrocos. A maioria dos professores era de origem espanhola, e a dos alunos, marroquina. Quando organizávamos atividades, essas eram baseadas na cultura espanhola/ocidental. Havia então um choque de culturas, não era produtivo para os estudantes. Portanto, os educadores que não se introduzem na cultura das pessoas com quem dialogam não podem ensinar corretamente. Na Catalunha, há a cultura de se falar catalão, mesmo os que chegam, e lá há muitos marroquinos. Imagine se um marroquino chega em Barcelona e diz: “Falar catalão não interessa à minha cultura”. Fica difícil se adaptar. É necessário entender como falam e como se comportam esses estudantes.

CF: Ou seja, não teremos uma pessoa completamente desenvolvida porque a escola hoje não desenvolve todas as particularidades do ser humano?
CMJ:
Exatamente. São três os espaços reguladores da vida humana no mundo ocidental: as famílias, os espaços educativos e os partidos políticos. É claro que há exceções, mas, no geral, é uma rede de mentiras potentes. A primeira é a palavra “infância”, que vem do latim infans, que é “aquele que não fala”. Mas crianças pequenas podem falar coisas muito interessantes. Outra mentira: infância e adolescência são idades de transição. Todas as idades são de transição, pois estamos todos envelhecendo e mudando sempre. É uma soma de mentiras que continua na idade adulta. Nela somos pacientes, consumidores, usuários, nunca colaboradores, cidadãos. Então surge uma soma de não credibilidades: os adultos não creem na infância, as crianças não creem nos adultos. A grande reação disso é que os infanto-juvenis não creem neles mesmos, e que apenas estão na sala de espera para serem adultos. E os adultos estão na sala de espera da morte. Quando chegarem a adultos, vão também reproduzir esse sistema com seus filhos e seus estudantes. São os erros de uma civilização adultocêntrica.

CF: O que é exatamente a pedagogia do cotidiano?
CMJ:
Esse termo refere-se ao fato de que a educação é muito relacionada com os pequenos elementos da vida cotidiana. Para a cultura dominante, o trivial não é importante. É como se a vida fosse feita só de momentos importantes, quando na realidade é o contrário. Por exemplo, não se pode viver a cada dia uma grande paixão. Seria insuportável. Tenho um sistema para saber se um educador é bom ou não: peço para ele me falar de uma criança qualquer para a qual ele dá aula. Se ele disser “esse é agressivo”, não está correto. O bom educador é o que diz “essa criança está feliz, mas está dissimulando, porque, no mundo, ri para dissimular a tristeza que está dentro dela”. Mais que a palavra, a pedagogia do cotidiano é a atitude e o sentimento que estão junto das pequenas coisas.

CF: E a partir disso, como seria a escola que tenta englobar tudo isso?
CMJ:
Essa escola precisa de profissionais que saibam sentir, não só escrever e falar. Têm de fazer a soma de sentimentos, a começar pelo respeito pela infância, coisa que não terão se não acreditam que a infância tem, além de direitos e deveres, capacidade para criar. O professor também precisa ter um sentimento de docência, já que a aula está construída em função da criança. Quando a criança é respeitada, que tem alguém que entende seus sentimentos, ela se sente conectada a tudo aquilo. Quando participa, ela diz: “Isso é meu, faz parte da minha vida”. Isso, sim, vai fazer da educação dela uma atividade bem-sucedida.

CF: Existem exemplos desse tipo de educação integral que o senhor considera bem-sucedidos?
CMJ:
Há conjuntos de escolas muito bem estruturadas na Espanha e na Itália. Nesta última, na pequena cidade de Reggio Emilia, perto de Milão, através do pedagogo Loris Malagutti. Na Espanha, existe um conjunto de escolas acima da média em toda a Catalunha, que foca na sensibilidade. A qualidade das escolas municipais de zero a 3 anos é muito boa.

CF: Essa visão da educação com a participação total da criança não parece um tanto utópica?
CMJ:
A educação integral é, sim, uma grande utopia, e temos como entendê-la não como algo impossível, mas como um objetivo a ser alcançado. Dizem muito que sou utópico, e eu respondo: “Obrigado!” É apaixonante tentar uma educação nesses moldes em um mundo baseado em mentiras.

CF: O senhor já teve experiências de orçamento participativo no Brasil, nas prefeituras de Fortaleza e São Paulo. Como avaliar a educação nessas cidades?
CMJ:
Fiz parte do projeto de orçamento participativo nessas capitais. Houve em Porto Alegre também, mas eu não estava lá. Eram projetos com ideais muito claros que entendiam não poder haver processo sério se não fosse acompanhado de muita formação e informação das pessoas e sensibilização dos adultos, políticos e professores. Isso é diferente do que acontece, por exemplo, na Europa. Quando lá me perguntam onde vejo capacidade para melhorar a educação de maneira participativa, sempre me refiro à América do Sul, não por lá. A informalidade brasileira ajuda a participar mais.

CF: Podemos dizer, então, que, apesar de tudo, o Brasil tem boas experiências educacionais a ser mostradas lá fora?
CMJ:
Na Europa, comenta-se muito sobre a experiência educacional de Porto Alegre. Aquilo foi um exemplo no qual a cidadania é realmente potente. É uma cidade referência em participação da população na educação, sobretudo de zero a 3 anos. E a cidade também está marcada pela experiência do Fórum Social Mundial. Quando digo a amigos que vou ao Brasil, eles se empolgam e se lembram da experiência porto-alegrense.


A musa da mamata

Por 16 anos, entre 1995 e 2011, Mônica Alexandra da Costa Pinto arrancou suspiros pelos corredores da Assembleia Legislativa do Pará. Alta, morena, de longos cabelos lisos e corpo sempre em forma, tinha 28 anos quando foi contratada para cuidar da emissão dos contracheques dos servidores. Mas em fevereiro deste ano, a funcionária, hoje com 44 anos, revelou-se outro tipo de musa. Abandonada pelos antigos chefes e por um namorado parlamentar decidiu ir ao Ministério Público revelar detalhes de um dos maiores esquemas de corrupção registrados recentemente no País. Um esquema criminoso que, entre 2003 e 2010, pode ter desviado mais de 80 milhões de reais do Legislativo paraense.
De Monica Lewinsky, que mantinha uma relação com a pélvis do ex-presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos, a Mônica Veloso, ex-amante do senador Renan Calheiros, não foram poucos os exemplos de mulheres abandonadas que foram à forra contra seus antigos protetores. Poucas possuíam, no entanto, um arquivo de informações tão formidáveis como a dessa nova Mônica, que atualmente monopoliza as atenções da Justiça, da imprensa e da polícia do Pará. Por sete anos, ela foi a principal operadora de um esquema de fraudes da folha de pagamento da Assembleia. Os desvios são estimados em 1 milhão de reais por mês e, segundo ela, beneficiavam ao menos dois ex-presidentes da casa: o ex-deputado Domingos Juvenil, do PMDB, e o atual- senador Mário Couto, do PSDB.
Couto, um dos mais importantes aliados do atual governador do Pará, Simão Jatene, foi presidente da Assembleia Legislativa entre 2003 e 2007, justamente quando se estabeleceu a quadrilha especializada em alterar contracheques, fazer compras superfaturadas, fraudar licitações e assombrar o Legislativo paraense com funcionários fantasmas e servidores “laranjas”. Foi sucedido por Juvenil, que tornou o esquema ainda mais agressivo, mas perdeu o controle da situação e cometeu o grave erro de tentar substituir Mônica Pinto por um afilhado, no início do ano passado.
Confira a matéria completa na Edição 646 de CartaCapital, já nas bancas

O Bolsa Família de Dilma Rousseff

Uma das mais importantes decisões do governo Dilma Rousseff está prestes a se concretizar e poucas pessoas estão sabendo. Até o fim de maio, depois de meses de estudos e reuniões (que contaram com a participação ativa da presidenta), o Programa Brasil sem Miséria deverá ser lançado.
A meta é ambiciosa: de agora até 2014, acabar com a miséria absoluta no Brasil, mudando radicalmente a vida de 16,2 milhões de pessoas, sua população-alvo. Em nossa história, nenhum governo havia se colocado em um desafio desse porte.
Pena que algo tão relevante fique em segundo plano nas discussões políticas e nas atenções da mídia. Obcecados com o tema do “retorno da inflação”, ninguém se interessa por outra coisa. Ficamos presos à velha agenda: “Gastos públicos descontrolados”, “fatores de instabilidade” e “limites ao crescimento”.
Enquanto isso, um programa totalmente novo está em gestação. Se der certo, o Brasil sem Miséria vai ajudar a resolver um problema que sempre consideramos insolúvel e revolucionar a nossa sociedade.
É algo que Dilma anunciou na campanha como um de seus principais compromissos, mas que passou quase despercebido. No meio de tantas coisas sem pé nem cabeça que estavam sendo prometidas, é até compreensível que isso tivesse acontecido.
Depois da eleição, uma das tarefas nas quais ela mais se empenhou foi na finalização do programa. A versão que será em breve anunciada tem sua marca pessoal.
Aliás, na hora de escolher o slogan do governo, ela optou pela frase “País Rico É País sem Pobreza”, no lugar do que Lula preferia, “Brasil: um País de Todos”. Ou seja, o novo programa é bem mais que apenas outro na área social.
A ideia é simples de enunciar, mas a concretização é complicada. Como disseram suas responsáveis diretas, a ministra do Desenvolvimento Social e a secretária extraordinária para a Erradicação da Pobreza, em entrevista recente, a premissa do programa é que, para erradicar a miséria, é preciso dirigir aos segmentos mais vulneráveis da população ações que assegurem: 1. A complementação de renda. 2. A ampliação do acesso a serviços sociais básicos. 3. A melhora da “inclusão produtiva”.
Como se pode ver, é muito mais que o Bolsa Família, mas dele decorre. Sem a experiência adquirida nos últimos anos, seria impensável um programa como esse, que exige integração de vários órgãos do governo federal, articulação com estados e municípios e capacidade de administrar ações em grande escala. Além disso, é mais complexo, pois implica desenhar soluções específicas para cada segmento, comunidade ou até família, em vez de lhes destinar um benefício padronizado, por mais relevante que seja.
Com ele, tomara desapareçam duas coisas aborrecidas de nosso debate político. De um lado, a reivindicação de paternidade do Bolsa Família que Fernando Henrique e algumas lideranças tucanas repetem a toda hora. De outro, as opiniões preconceituosas contra programas do gênero, típicas de certas classes médias, para quem transferir renda é uma esperteza que subordina beneficiários e perpetua a pobreza. Daí a dizer que Lula é produto do Bolsa Família é um passo.
O curioso na pendência a respeito de quem inventou o Bolsa Família é que o Bolsa Escola, criado no governo FHC, tem sua origem em algo que nasceu dentro de uma administração petista, a do Distrito Federal, quando Cristovam Buarque foi governador. O que foi implantado em Campinas à época em que o tucano Magalhães Teixeira era prefeito tinha pouco a ver com desempenho ou frequência- -escolar, pré-requisitos do Bolsa Escola.
Discussões como essa perdem sentido ante o novo. Onde estaria seu DNA peessedebista se o Bolsa Escola era algo tão mais limitado e menor? Como insistir no discurso do “Fui eu que fiz?”
Aos críticos do maquiavelismo petista, o Brasil sem Miséria responde com sua concepção inovadora e disposição de fazer. Quem levou o Bolsa Família a ser o que é tem crédito para se propor um desafio dessa envergadura.
Mas o importante mesmo é a perspectiva que se abre de que a miséria seja enfrentada para valer. Essa é uma dívida que o País precisa pagar.

É possível seguir à risca a dieta e buscar por alimentos saudáveis em qualquer estação do ano. Cardápio leve e nutritivo é algo que deve ser perseguido sempre. Ao invés de procurar por fórmulas milagrosas e que prometem emagrecer em curto prazo, especialistas aconselham, inclusive, que as pessoas optem por uma dieta que vise uma melhor qualidade de vida e para o ano todo. Para isso, receitas e truques valiosos podem ajudar na busca pelo peso ideal. Veja algumas dicas e bom apetite!

Delícias saudáveis para o frio
Grande desafio entre os adeptos da dieta é atravessar o inverno sem enfrentar com vergonha a balança depois do fim da estação. Para que nenhum esforço vencido ao longo do ano caia por água abaixo, basta consumir os alimentos prazerosos - e gordurosos - com moderação, além de evitar o sedentarismo.
Sopas são opções para o inverno - Foto: Getty Images
Fondues, queijos, vinhos e outras guloseimas típicas da estação desafiam os olhos e animam o apetite. O recomendado, segundo nutricionistas, é equilibrar. Se um dia se consumiu um desses alimentos, no outro é importante correr atrás do prejuízo e buscar por itens saudáveis.

Uma gama de delícias leves auxilia você a curtir a estação mais fria do ano com prazer. As sopas, com uma seleção especial de legumes e verduras, são importantes para aquecer e nutrir. Procure, claro, ficar longe de receitas com creme de leite e queijos gordurosos.

Para temperar sua sopa, lance mão de ervas naturais, como o manjericão e salsinha, ou missô - pasta fermentada de soja. A aveia é outra amiga na hora de preparar o caldo quentinho por engrossar a receita e ser rica em nutrientes e fibras - o que ajuda no fluxo intestinal.

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imagem Botao Descobrir
Outro fator que não deve ser deixado de lado é a hidratação. Apesar do corpo não pedir tanta água como no verão, é importante não descuidar do consumo de líquidos. Sucos de frutas orgânicas e água de coco também são bebidas que proporcionam boas doses de nutrientes ao organismo.

Já as bebidas alcoólicas, como os vinhos, precisam ser evitados. Além de serem uma porta de entrada para os quilos indesejados, esses tipos de bebida ajudam a desidratar o corpo. Se mesmo assim você quiser descontrair e beber um pouquinho, opte por coquetéis com menos adição de álcool. 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Governo federal pretende conceder 75 mil bolsas de estudo no exterior até 2014

Social (BNDES)
Paula Laboissière, da Agência Brasil
A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (9) que o governo pretende conceder 75 mil bolsas de estudo no exterior até 2014. Segundo ela, cerca de 5 mil brasileiros estudam atualmente em países como Alemanha, França e Estados Unidos. “É um desafio grande, mas podemos alcançá-lo”, disse.
Em seu programa semanal Café com a Presidenta, Dilma avaliou que, com as bolsas de estudo no exterior e com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o país dará um “grande salto” no desenvolvimento.
“Temos que lembrar que o Brasil precisa de mão de obra qualificada para prosseguir nesse novo ciclo do seu desenvolvimento”, afirmou. De acordo com a presidenta, o governo conclui este ano 81 novas escolas técnicas e entrega mais 200 até 2014, totalizando 555 unidades em todo o país.
Os cursos disponíveis, segundo ela, incluem áreas como hotelaria, culinária e informática. Dilma destacou ainda que o chamado Sistema S (Senai, Senac, Senar, Senat e Sescoop) terá sua estrutura ampliada por meio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e .

“O Ensino Médio ainda está muito distante da realidade dos jovens brasileiros”


Relator das novas diretrizes do Ensino Médio aprovadas na última semana pelo CNE, José Fernandes de Lima diz que medidas visam flexibilizar a grade curricular
O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, na quarta-feira 4, as novas diretrizes do ensino médio. O CNE decidiu flexibilizar o currículo desse ciclo e conferir às escolas mais autonomia, permitindo que elas montem seus projetos político-pedagógicos a partir de quatro dimensões do conhecimento: ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Na prática, o conselho espera aproximar essa grade curricular da realidade do jovem brasileiro numa faixa-etária em que existe alto índice de evasão, 10%, de acordo com dados de 2009. Além do mais, somente 50% dos jovens entre 15 e 17 anos matriculados no ensino regular frequentam as salas do ensino médio. Os demais permanecem no ensino fundamental.
A escola poderia, desse modo, direcionar o estudo de acordo com a vocação das comunidades onde estão localizadas. Uma instituição num distrito industrial teria como centrar-se em disciplinas ligadas à tecnologia, química e física. Já em regiões turísticas, o foco poderia ser em história e geografia. O texto final ainda está na fase de revisão técnica e precisa ser aprovado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. O relator do documento, conselheiro José Fernandes de Lima, diz que as diretrizes vão além da dicotomia entre conhecimento científico e ensino técnico. Em entrevista a CartaCapital, ele diz que o objetivo principal é conferir uma identidade ao ciclo, o que refletirá diretamente na diminuição dos índices de evasão. Confira os principais pontos da entrevista.

CartaCapital: Quais as razões da discussão de novas diretrizes para o Ensino Médio?
José Fernandes de Lima:


 O que motivou o documento foram as transformações sociais e tecnológicas dos últimos anos. Isso pressionou fortemente as escolas para uma aproximação com a realidade do jovem. No Ensino Médio, o jovem espera encontrar na escola programas que tenham a ver com seus projetos de vida, e isso não acontece hoje.

CC: Por que?

JFL:
É uma explicação histórica. O Brasil demorou muito para investir no Ensino Médio. Somente em 1931 instalou-se o Ensino Secundário, e a ampliação da oferta do Ensino Médio é dos últimos 20 anos. Por muitos anos, esse ciclo sempre foi tratado de forma excludente, não conseguíamos trazer os alunos para a escola. Então houve um grande esforço do País nos últimos anos no principal ponto, o acesso. No final da década de 90, para se ter uma ideia, tínhamos a metade do número de matriculas no ensino médio do que temos hoje
.
CC: Qual é esse número?

JFL:
Cerca de 8,3 milhões de pessoas no ensino regular. Mais 1,6 milhão matriculado no Educação de Jovens e Adultos (EJA).

CC: É correto afirmar que é uma tentativa de tornar um Ensino Médio mais próximo do Ensino Técnico?

JFL:
Não. Acreditamos que o Ensino Médio não deve preparar apenas para a continuidade do estudo no ensino superior. Ele também tem que preparar o aluno para a vida. Afinal de contas, trata-se da etapa final da Educação Básica. Entretanto, a escola não pode abrir mão de aprofundar o ensino científico. Propomos que, além da parte teórica, ela aposte no trabalho como princípio educativo, explorando as relações do trabalho e momentos de trabalho coletivo. Propomos que a escola explore as novas tecnologias e articule-se em torno de áreas como artes e cultura. As novas diretrizes para o Ensino Técnico estão sendo trabalhadas separadamente. Mas é importante ressaltar que as diretrizes não são receitas prontas, as escolas devem debater com as comunidades para fazer as adaptações na grade curricular.

CC: Quais as alterações que as diretrizes propõem para as aulas em período noturno?

JFL:
Nesse ponto também entra a questão de dar uma identidade ao ciclo. Para que o Ensino Médio chegue a toda a população nessa faixa-etária, as escolas devem usar de criatividade e flexibilidade. Se há dificuldades para cumprir as 2,4 mil horas em três anos, porque muitos trabalham durante o dia, o jovem poderia concluí-lo em três anos e meio ou quatro anos. Também abrimos a possibilidade para que no ensino noturno até 20% das aulas sejam não presenciais.

CC: Propor um Ensino Médio menos tradicional não prejudicaria a questão do acesso à universidade, predominantemente marcado por vestibulares?

JFL:
Colocamos nas diretrizes que as avaliações, inclusive os vestibulares, devem levar em consideração esse novo modelo. Nesse sentido, a reformulação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já foi um avanço. Mas na medida em que formos avançando na implementação das diretrizes, novas formas de avaliação podem ser discutidas.

Quem quer ser professor?

Baixos salários, desvalorização e falta de plano de carreira afastam as novas gerações da profissão docente. Mas há quem não desista. Por Tory Oliveira. Foto: Masao Goto Filho
Você é louca!” “É tão inteligente, sempre gostou de estudar, por que desperdiçar tudo com essa carreira?” Ligia Reis (foto a dir.), de 23 anos, ouviu essas e outras exclamações quando decidiu prestar vestibular para Letras, alimentada pela ideia de se tornar professora na Educação Básica. Nas conversas com colegas mais velhos de estágio, no curso de História, Isaías de Carvalho, de 29 anos, também era recebido com comentários jocosos. “Vai ser professor? Que coragem!” Estudante de um colégio de classe média alta em São Paulo, Ana Sordi (foto a esq.), de 18 anos, foi a única estudante de seu ano a prestar vestibular para Pedagogia. E também ouviu: “Você vai ser pobre, não vai ter dinheiro”. Apesar das críticas, conselhos e reclamações, Ligia, Isaías e Ana não desistiram. No quinto ano de Letras na USP, Ligia hoje trabalha como professora substituta em uma escola pública de São Paulo. Formado em História pela Unesp e no quarto ano de Pedagogia, Isaías é professor na rede estadual na cidade de São Paulo. No segundo ano de Pedagogia na USP, Ana acompanha duas vezes por semana os alunos do segundo ano na Escola Viva.
Quando os três falam da profissão, é com entusiasmo. Pelo que indicam as estatísticas, Ligia, Isaías e Ana fazem parte de uma minoria. Historicamente pressionados por salários baixos, condições adversas de trabalho e sem um plano de carreira efetivo, cursos de Pedagogia e Licenciatura – como Português ou Matemática – são cada vez menos procurados por jovens recém-saídos do Ensino Médio. Em sete anos, nos cursos de formação em Educação Básica, o núsmero de matriculados caiu 58%, ao passar de 101.276 para 42.441.
Atrair novas gerações para a carreira de professor está se firmando como um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Educação no Brasil. Não por acaso, a valorização do educador é uma das principais metas do novo Plano Nacional de Educação. Uma olhadela na história da educação mostra que não é de hoje que a figura do professor é institucionalmente desvalorizada. “Há textos de governadores de província do século XIX que já falavam que ia ser professor aquele que não sabia ser outra coisa”, explica Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, coordenadora da pesquisa Professores do Brasil: Impasses e desafios. No entanto, entre as décadas de 1930 e 1950, a figura do professor passou a ter um valor social maior. Tal perspectiva, porém, modificou-se novamente a partir da expansão do sistema de ensino no Brasil, que deixou de atender apenas a elite e passou a buscar uma universalização da educação. Desordenada, a expansão acabou aligeirando a formação do professor, recrutando muitos docentes leigos e achatando brutalmente os salários da categoria como um todo.
Raio X
Encomendada pela Unesco, a pesquisa Professores do Brasil: Impasses e desafios revelou que, em geral, o jovem que procura a carreira de professor hoje no Brasil é oriundo das classes mais baixas e fez sua formação na escolas públicas. Segundo dados do questionário socioeconômico do Enade de 2005, 68,4% dos estudantes de Pedagogia e de Licenciatura cursaram todo o Ensino Médio no setor público. “De um lado, você tem uma -implicação muito boa. São jovens que estão procurando ascensão social num projeto de vida e numa profissão que exige uma formação superior. Então, eles vêm com uma motivação muito grande.”

É o caso de Fernando Cardoso, de 26 anos. Professor auxiliar do quinto ano do Ensino Fundamental da Escola Viva, Fernando é a primeira pessoa de sua família a completar o Ensino Superior. Sua primeira graduação, em Educação Física, foi bastante comemorada pela família de Mogi-Guaçu, interior de São Paulo. O mesmo aconteceu quando ele resolveu cursar a segunda faculdade, de Pedagogia.
Entretanto, pondera Bernardete, grande parte desse contingente também chega ao Ensino Superior com certa “defasagem” em sua formação. A pesquisadora cita os exemplos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que revela resultados muito baixos, especialmente no que diz respeito ao domínio de Língua Portuguesa. “Então, estamos recebendo nas licenciaturas candidatos que podem ter dificuldades de linguagem e compreensão de leitura.”
Segundo Bernardete, esse é um efeito duradouro, uma vez que a universidade, de forma geral, não consegue suprir essas deficiências. Para Isaías Carvalho, esta é uma visão elitista. “Muitos professores capacitados ingressam nas escolas e estão mudando essa realidade. Esse discurso acaba jogando toda a culpa nos professores”, reclama.
Desde 2006, Isaías Carvalho trabalha como professor do Ensino Fundamental II e Ensino Médio em uma escola estadual em São Paulo. Oriundo de formação em escolas públicas, Isaías também é formado pelo Senai e chegou a trabalhar como técnico em refrigeração. Só conseguiu passar pelo “gargalo do vestibular” por causa do esforço de alguns professores da escola em que estudava na Vila Prudente, zona leste de São Paulo. Voluntariamente, os professores davam aulas de reforço pré-vestibular de graça para os alunos, nos fins de semana. “Os alunos se organizavam para comprar as apostilas”, lembra. Foi durante uma participação como assistente de um professor na escola de japonês em que estudava que Antônio Marcos Bueno, de 21 anos, resolveu tornar-se professor. “Um sentimento único me tocou”, exclama. Em busca do objetivo, saiu de Manaus, onde morava, e mudou-se para São Paulo. Depois de quase dois anos de cursinho pré-vestibular, Antônio Marcos está prestes a se mudar para a cidade de Assis, no interior do Estado, onde vai cursar Letras, com habilitação em japonês.
Entretanto, essa visão enraizada na cultura brasileira de que ser professor é uma missão ou vocação – e não uma profissão – acaba contribuindo para a desvalorização do profissional. “Socialmente, a representação do professor não é a de um profissional. É a de um cuidador, quase um sacerdote, que faz seu trabalho por amor. Claro que todo mundo tem de ter amor, mas é preciso aliar isso a uma competência específica para a função, ou seja, uma profissionalização”, resume Bernardete.
Contra a corrente
Ainda assim, o idealismo e a vontade de mudar o mundo ainda permanecem como fortes componentes na hora de optar pelo magistério. Anderson Mizael, de 32 anos, teve uma trajetória diferente da maioria dos seus colegas da PUC-SP. Criado na periferia de São Paulo, Anderson sempre estudou em escolas públicas. Adulto, trabalhou durante cinco anos como designer gráfico antes de resolver voltar a estudar. Bolsista do ProUni, que ajuda a financiar a mensalidade, Anderson é um dos poucos do curso de Letras que almejam a posição de professor de Literatura. “Eu tenho esse lado social da profissão. O ensino público está precisando de bons professores, de gente nova”, explica ele, que acaba de conseguir o primeiro estágio em sala de aula, em uma escola no Campo Limpo, zona sul da capital. Ana, que hoje trabalha em uma escola de elite, sonha em dar aula na rede pública. “São os que mais precisam.” “Eu sempre quis ser professora, desde criança”, arremata Ligia.

A empolgação é atenuada pela realidade da escola – com as já conhecidas salas lotadas, falta de material e muita burocracia. Ligia Reis reclama. “Cheguei, ganhei um apagador e só. Não existe nenhum roteiro, nenhum amparo”, conta. “Às vezes, você é um ótimo professor, tem várias ideias, mas a escola não ajuda em nada”, desabafa. Ligia também conta que, para grande parte de seus colegas de graduação, dar aula é a última opção. “A maioria quer ser tradutor ou trabalhar em editoras. É um quadro muito triste.”
Como constatou Ligia, de forma geral, jovens oriundos de classes mais favorecidas, teoricamente com uma formação mais sólida e maior bagagem cultural, acabam procurando outros mercados na hora de escolher uma profissão. “Eles procuram carreiras que oferecem perspectivas de progresso mais visíveis, mais palpáveis”, explica Bernardete. Um dos motivos que os jovens dizem ter para não escolher a profissão de professor é que eles não veem estímulo no magistério e os salários são muito baixos, em relação a outras carreiras possíveis. “Meu avô disse para eu prestar Farmácia, que estava na moda”, lembra Ana.
A busca pela valorização da carreira de professor passa também, mas não somente, por políticas de aumento salarial. Além de pagar mais, é preciso que o magistério tenha uma formação mais sólida e, principalmente, um plano de carreira efetivo. “Um plano em que o professor sinta que pode progredir salarialmente, a partir de alguns quesitos. Mas que ele, com essa dedicação, possa vir a ter uma recompensa salarial forte”, conclui a pesquisadora.
Anderson, Ligia, Ana, Isaías, Antônio e Fernando torcem para que essa perspectiva se torne realidade. “Eu acho que, felizmente, as pessoas estão começando a tomar consciência do papel do professor. É uma profissão que, no futuro, vai ser valorizada”, torce Anderson. “É uma profissão, pessoalmente, muito gratificante.” “Às vezes, eu chego à escola morta de cansaço, mas lá esqueço tudo. É muito gostoso”, conta Ana.

Partidos em crise

No Brasil, as legendas nunca tiveram ambiente propício para se enraizar. Em nossa história, sempre tenderam a ser breves, pouco presentes na vida social e vistas com desconfiança. Onde estão as agremiações que representam o Brasil de hoje? Por Marcos Coimbra. Foto: Valter Campanato/ABr
Se há uma coisa com a qual todo mundo concorda quando se discute política é que os partidos são fundamentais na democracia. Até existem partidos em países não democráticos (como as legendas únicas de ditaduras à esquerda e à direita), mas não há democracias sem eles.
No Brasil, os partidos nunca encontraram, porém, ambiente propício para se enraizar e se desenvolver. Em nossa história, sempre tenderam a ser breves, pouco presentes na vida social e vistos com desconfiança.
Também pudera. Saímos de um regime de limitada participação no Império para uma República onde as restrições continuavam imensas. Nosso eleitorado era pequeno e decidia a respeito de poucas coisas. Tudo de relevante se resolvia nas confabulações da elite.
Atravessamos os 50 anos entre a Revolução de 1930 e a redemocratização de uma ditadura a outra. A cada mudança, os partidos existentes eram extintos e criavam-se novos. Seria querer demais que estabelecessem vínculos profundos com a sociedade.
Os que surgiram em 1945 duraram apenas 20 anos, mas foram os que mais marcaram nossa vida política. Até pouco tempo atrás, ainda era possível encontrar pessoas que se identificavam mais com eles do que com os atuais. PSD, UDN e PTB, ao lado de outras legendas menores ou regionais, ainda estão presentes nas referências de nossa cultura.
Nenhum morreu de morte natural, causada pela perda de representatividade ou o desinteresse dos eleitores. Em sinal paradoxal de respeito, os militares os extinguiram por Ato Institucional específico, como que reconhecendo sua importância e o quanto poderiam representar de obstáculo ao modelo de sistema político que queriam implantar.
Por que será que a democracia pós-redemocratização não conseguiu produzir organizações partidárias semelhantes? Este já é o mais longo período com democracia contínua que tivemos. Onde estão os partidos que expressam o Brasil de hoje?
Só temos certeza de um: o PT. É o maior (em termos de simpatia popular e número de militantes), o mais organizado (com vida interna estruturada e dinâmica), o mais bem-sucedido (com um terceiro mandato presidencial sucessivo) e o mais nacional (com presença expressiva em municípios e comunidades do País inteiro) de todas as legendas que existiram em nossa história.
Por que só o PT? Por que não surgiu algo equivalente ou parecido em nenhum outro lugar do espectro ideológico? É evidente que nem todos os brasileiros são petistas. A se crer nas pesquisas, a maioria, aliás, não é. Então, por que nenhum veio ocupar o vazio existente?
Neste início de governo de Dilma Rousseff, os partidos de oposição atravessam sua pior crise. Ao contrário do que se falou logo após a eleição de 2010, quando houve quem dissesse que os resultados mostravam que era grande o sentimento oposicionista no País, estão confusos, desnorteados, em conflitos internos.
O DEM, sucessor da velha Arena criada pelos militares, parece um doente em fase terminal. Que futuro pode ter um partido incapaz de resistir ao assédio de alguém da importância política de Gilberto Kassab? Qualquer um vê o dedo de José Serra por trás desse PSD de agora, mas não deixa de ser lamentável a trajetória da antiga Frente Liberal. Hoje, o melhor destino para os que restarem será a incorporação ao PSDB.
Esse, cindido por brigas internas irreconciliáveis, perde filiados históricos e não consegue se desvencilhar de lideranças que o prendem ao passado. Anda tão mal que seu principal intelectual propõe que invente alguém para representar. Sem o “povão” que lhe deu as costas, Fernando Henrique Cardoso sugere ao partido tornar-se porta-voz das “novas classes médias”. Como se os partidos primeiro existissem e depois fossem à procura de quem os quer.
É possível que só tenhamos um PT pela simples razão de que só ele foi um partido que nasceu na sociedade, se organizou aos poucos e cresceu ao atrair gente comum. Se houve um partido, em nossa história, que se desenvolveu de baixo para cima, foi ele. Não é apenas isso que explica seu sucesso, mas é onde começa.
Dizendo o óbvio: o PT é forte por estar enraizado na sociedade. Os outros estão em crise por lhes faltar o “povão”.