segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


Ponto de vista: Lya LuftPor um pouco de limites
"Um pouco de ordem na infância e na
adolescência – em casa, na escola e
na sociedade em geral – ajudaria a aliviar
a perplexidade e a angústia dessa
fase da vida"

Sempre que devo falar em educação procuro não parecer cética, mas me lembro do que dizia um velho e experiente professor: "Se numa turma de quarenta alunos faço um aprender a pensar, me dou por satisfeito".
Não sou modelo de vida escolar. Não fui boa aluna, passei a gostar de estudar quase na faculdade, em geral fui medíocre. Das coisas boas que me marcaram, uma foram os limites sensatos, outra, a autoridade bondosa. Nada a ver com autoritarismo, desrespeito ou controle abusivo.
Fui uma criança rebelde, numa época em que criança dormia cedo, nunca discutia com os adultos, menina deixava seu quarto impecável, bordava com mãos de fada e aprendia a ser uma moça tranqüila, obedecendo ao futuro marido com a mesma graça com que obedecia a pais, avós e professores.
Ilustração Atômica Studio

Eu não era nada disso: meu problema era a indisciplina. Coisas inocentes da perspectiva atual, como rir em aula, dificuldade em ficar quieta, achar graça onde ninguém via graça nenhuma e me entediar mortalmente na maioria das vezes. Sonhar olhando pela janela com vontade de estar em casa, lendo debaixo das árvores ou aconchegada no meu quarto. Ah, aquela cama embutida em prateleiras!
Mesmo assim, havia algo de reconfortante em existir um tipo de ordem e algumas exigências, evitando que, montada na vassoura da fantasia e do precoce desejo de independência, eu sumisse no ar ou nas páginas de algum livro.
O colégio era severo, não cruel. Estudava-se muito. Aos 11 anos comecei a aprender latim, que me ajudaria a compreender melhor meu próprio idioma, entre outras coisas, e aos 12 decorávamos poemas em francês, alguns dos quais até hoje recordo (mal).
Na matemática e nas ciências exatas meu fracasso era espetacular. Meu bom professor de matemática, que me deu intermináveis séries de aulas particulares, lamentava-se com meu pai: "Essa menina não é burra, mas não aprende nada, só fica me olhando com olhar meio desamparado".
Décadas depois, interrogada por jornalistas a respeito de meu desempenho escolar, minha mãe respondeu com bom humor e muito realismo: "Ah, ela era uma aluna nota vírgula".
E explicou: eu estava sempre precisando de nota para ser aprovada em matemática e ciências exatas e, achava ela, por compaixão os professores me davam o décimo faltante. Eu precisava de nota 5, me davam 5 vírgula 1; precisava de 3, vinha um 3 vírgula 4. A vírgula me salvava da reprovação (segundo minha mãe).
Repetir o ano era o horror dos horrores. Para a meninada de hoje isso deve soar quase irreal. A gente recebia nota, sim, não conceitos vagos. Era reprovado, sim, com certa facilidade, o que significava um exame de segunda época no período das esperadas férias de verão e uma enorme possibilidade de repetir o ano – o máximo opróbrio. Hoje, é preciso esforçar-se para conseguir uma reprovação. Repetir o ano? Quase impossível.
Muito de psicologia mal interpretada nos mostrou pelos anos 60 que não dá para traumatizar crianças e jovens: eles têm de aprender brincando. Esqueceu-se que a vida não é brincadeira e que o colégio – como a família – deveria nos preparar para ela. Transformou-se a escola num reduto familiar: professoras são tias, e muitas vezes a bagunça é generalizada, porque na família talvez seja assim.
Um pouco de ordem na infância e na adolescência – em casa, na escola e na sociedade em geral – ajudaria a aliviar a perplexidade e a angústia dos jovens. Respeito deveria ser algo natural e geral, começando em casa, onde freqüentemente as crianças comandam o espetáculo.
O exemplo vem de cima, e nisso estamos mal. Corrupção e impunidade são o modelo que se nos oferece publicamente. Se os pais pudessem instaurar uma ordem em casa – amorosa, mas firme –, dando aos filhos limites e sentido, respeitando o fato de eles estarem em formação, estariam sendo melhores do que agindo de forma servil ou eternamente condescendente.
Aliás, em casa começaria o melhor currículo, a melhor ferramenta para a vida: respeitar, enxergar e questionar. Nem calar a boca, como antigamente, nem gritar, bagunçar ou ofender: dialogar, comunicar-se numa boa, com irmãos, pais e outros. Isso estimularia a melhor arma para enfrentar o tsunami de informações, das mais positivas às mais loucas, que enfrentamos todos os dias: discernimento.
O resto, meus caros, pode vir depois: com todas as teorias, nomenclaturas, "modernidades" e instrumentação. É ornamento, é detalhe, pouco serve para quem não aprendeu a analisar, ler, concentrar-se, argumentar e ser um cidadão integrado e firme no caótico e admirável mundo nosso.
Lya Luft é escritora

Segunda-feira, 31 de janeiro de 2011 às 7:05  

Encontros com a presidenta da Argentina e mães e avós da Praça de Maio

Agenda presidencial
As presidentas Dilma Rousseff e Cristina Kirchner (Argentina) se encontram, nesta segunda-feira (31/1), na Casa Rosada, sede do governo argentino em Buenos Aires. A presidenta Dilma, segundo agenda de trabalho, faz sua primeira viagem internacional àquele país parceiro do Brasil.
A agenda da presidenta informa que o embarque para Buenos Aires será às 9h. Às 11h (horário local, uma hora a menos em relação ao horário de Brasília), a chegada na Base Aérea de Buenos Aires.
De lá, a comitiva da presidenta Dilma desloca-se até a Casa Rosada, onde ocorre a primeira reunião privada com a presidenta Kirchner. Minutos depois, o encontro com as mães e avós da Praça de Maio.
Em seguida, reunião ampliada, no Salão Mujeres, no mesmo palácio, e assinatura de atos. Ao término, as duas presidentas fazem declaração à imprensa e, do local, se deslocam para o Palácio San Martin, onde será oferecido almoço. Após compromissos na capital argentina, a presidenta Dilma retorna para o Brasil
Domingo, 30 de janeiro de 2011 às 6:37   (Última atualização: 30/01/2011 às 06:40:35)

Brasil e Argentina têm responsabilidade para que a América Latina amplie presença e ação no cenário internacional


A presidenta Dilma Rousseff durante entrevista a jornalistas 
de três periódicos da Argentina. Fotos: Roberto Stuckert Filho/PR
A importância de reforçar a parceria entre Brasil e Argentina e, deste modo, sinalizar aos demais países da América Latina que é possível ter mais presença e ação no cenário internacional levou a presidenta Dilma Rousseff a decidir que a primeira viagem internacional fosse para a Argentina. Essa explicação foi colocada em entrevista aos jornalistas dos três importantes jornais daquele país:La Nacion, Clarín, Página 12. Além disso, a presidenta Dilma assegurou que terá uma “relação extremamente próxima” com a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner:
“O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.”

A seguir os principais trechos da entrevista concedida pela presidenta Dilma Rousseff aos jornais argentinos La Nacion, Clarín e Página 12.

A importância da mulher na quebra de preconceitos
“Olha, eu acho uma coisa a ser comemorada, porque eu acho que os dois maiores países aqui, do Cone Sul, estão dando uma demonstração que as suas sociedades evoluíram no sentido de superarem o tradicional preconceito que existia contra a mulher. Veja que são sociedades que têm essa evolução no Sul, no Sul do mundo. E, para mim, é algo bastante significativo que também aqui nós tenhamos esse exemplo, que foi a eleição de um índio, na Bolívia, e de um metalúrgico antes mim aqui, no Brasil. Então, eu acredito que a América Latina, ela está dando um exemplo para o mundo de que certos preconceitos, certos bloqueios econômicos e sociais estão sendo superados. Eu acho que representa uma maior democratização das nossas sociedades e dos nossos países. E acredito que a presença da mulher aqui vai significar também a possibilidade de que em outros países da América Latina, como nós já tivemos, no Chile, a presidenta Bachelet, nós tenhamos também outros países em que a mulher seja eleita.”
Relação Brasil e Argentina

“Eu pretendo ter uma relação extremamente próxima com a presidenta Kirchner. Eu pretendo ter essa relação, primeiro, porque o Brasil e a Argentina, eu acho que são os países que têm responsabilidade, perante o conjunto da América Latina, de fazer com que a nossa região seja cada vez uma região com presença e ação no cenário internacional. O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.” 



MEC divulga lista de municípios que receberão creches e quadras esportivas em 2011


Crianças são atendidas numa creche municipal. Foto: Prefeitura Municipal de Nazaré Paulista (SP)
O Ministério da Educação divulgou a lista de 530 municípios com população superior a 50 mil habitantes que receberão creches e quadras poliesportivas este ano. Essa infraesturutra está prevista na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2) e deve beneficiar municípios situados nas regiões metropolitanas.
No primeiro grupo divulgado pelo MEC, 223 municípios receberão verba para construção de 520 creches e 98 para 213 quadras. A meta é fechar 2011 com 1,5 mil novas creches, segundo o coordenador-geral de Infraestrutura Educacional do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Tiago Radunz. Atualmente, apenas 20% das crianças de 0 a 3 anos têm acesso a creches no País.
São Paulo é o estado com o maior número de projetos atendidos: 103 creches. Em seguida, aparecem os estados do Rio de Janeiro (59), Rio Grande do Sul (55) e Minas Gerais (51). O município do Rio teve mais projetos selecionados: receberá verba para construir 30 creches. A seleção foi feita com base no número de projetos inscritos e na demanda por vagas.
“O Sul e o Sudeste concentram os municípios de maior porte. Por isso, tiveram mais projetos selecionados. Mas no grupo 3 do PAC ,formado por cidades de menor porte, que está sendo analisado, porque há uma quantidade muito grande de municípios inscritos”, explica Radunz.
De acordo com o coordenador do FNDE, a inclusão das creches e quadras esportivas no PAC 2 facilitou a liberação dos recursos do governo federal para as prefeituras. Antes, esse repasse era feito pelo Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância) por meio de convênios. Havia uma queixa por parte dos prefeitos pela quantidade de documentos e pré-requisitos que precisavam ser atendidos para receber a verba. Nessa nova etapa, os projetos são viabilizados a partir de termos de compromisso.
A partir da divulgação da lista dos contemplados, começa o processo de assinatura dos termos de compromisso e posteriormente dos recursos. O MEC disponibiliza para as prefeituras dois tipos de projeto de creche formulados a partir de critérios técnicos necessários para atender o público de 0 a 3 anos. Segundo Radunz, o total de recursos que será liberado ainda está sendo definido com o Ministério do Planejamento.

Fazendo HISTÓRIA - 1º Encontro do Coletivo da Rede Virtual


Dia 31 de janeiro de 2011 às 22 horas
via: http://br.tinychat.com/coletivodarede
Perfil twitter: @ColetivodaRede
e. mail: coletivodarede@gmail.com

Há momento de se comemorar a vitória eleitoral de Dilma Vana Rousseff como a primeira Pesidenta da República sucedendo ao mais popular presidente, o grande estadista Luis Inácio Lula da Silva.
Há o momento de se reconhecer o trabalho executado pela coordenação da campanha e o apoio decisivo das forças envolvidas na base apoio das alianças.
Há o momento de se reconhecer a importância da internet na campanha eleitoral, que contou com a bravura, lealdade, persistência da militância - petista ou não. Como sempre fez a diferença.
Há o momento de se dar o crédito devido às agências e estruturas envolvidas na campanha eleitoral para eleger Dilma Roussef.
Há o momento de se levar este acúmulo de experiência e organização à frente, ao reconhecimento da sociedade a existência real desse movimento social em sua organização e implantação.
O momento é agora.
Nesta segunda feira, 31 de janeiro de 2011 às 22h teremos o primeiro encontro da internet para debater a implantação de um Coletivo com vistas a se tornar um instrumento da sociedade que hoje se manifesta, se informa, produz e consome conhecimento, troca informações e mobiliza pessoas ou grupos na rede virtual, composta pelas comunidades do Orkut, Facebook, blogs, portais e no twitter.
Teremos a presença do companheiro Renato Simões, Secretário Nacional de Movimentos Populares do PT. Presidente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Campinas e militante do MNDH. Deputado Estadual por São Paulo no período 1995-2007.
O ponto de partida para o debate está dado a seguir, pelo texto do companheiro Rafael Tomyama, cujo texto integral se encontra AQUI:
...
4ª. Parte – As Redes Sociais
17. Não é de hoje que as teorias da comunicação formulam a respeito da magnitude dos processos de influência relacional na conformação da chamada opinião pública dentro de cenários de propaganda ideológica intensa. No capitalismo os empreendimentos se utilizam do incremento das forças produtivas, neste caso, do avanço científico-tecnológico, visando o processo crescente de acúmulo do capital, isto é do consumo visando o lucro, alimentando o processo permanente de crise com as relações produtivas que apontam para a precarização da remuneração da força de trabalho. A militância socialista, no entanto, se insere nesta contradição dialética para subverter o seu propósito concentrador, ao utilizar o seu potencial socializante com fins emancipatórios.
18. Não é preciso dizer que as redes sociais, ou melhor, os usos das redes sociais como instrumental de combate militante, assumem um caráter muito mais fluido do que as estruturas partidárias centradas em Setoriais. Com base nessa realidade diferenciada, há que se observar o que são os pontos de estrangulamento na proposição de se criar um Setorial de Militância Virtual do PT para se identificar a sua viabilidade.
19. A primeira questão que salta aos olhos é certo nível de engessamento estrutural diante do dinamismo da ambiência cibernética, o que não é exclusividade dos Setoriais, mas inerente a qualquer institucionalidade em geral. As estruturas estão instituídas visando à permanência enquanto que as redes são efêmeras, transitórias e voláteis. Além disso, os Setoriais são focados em filiados(as) do Partido, enquanto que as Redes tem composição muito diversificada. Por fim, como lidar com a territorialidade, as dinâmicas presenciais e a validação informacional em ambientes virtuais? Como conciliar isso tudo? A solução passa por não tentar encaixar a realidade na teoria, mas ter pleno domínio dos meios para produção de resultados.
20. Assim, há que se pensar numa estrutura com maior fluidez nas pontas, que trabalhe com um núcleo progressivamente mais orgânico. Ou seja, ao mesmo tempo em que se tem uma ampla militância simpatizante e filiada conectada virtualmente, existe também um setorial que direciona a informação e que mantém um canal de comunicação representativo permanente com a direção partidária. O tráfego de informação deve obedecer filtros por níveis (assuntos internos e externos). Esta multiplicidade caleidoscópica de colaboradores(as) na grande franja social potencializa a capilaridade do alcance da repercussão da linha política do Partido e estimula o engajamento progressivo numa maior organicidade.
21. As ferramentas tecnológicas possibilitam uma gama enorme de alternativas para democratizar tomadas de decisões, consultas, videoconferências, documentos colaborativos, etc. Certamente há de haver também momentos presenciais, para fortalecer ainda mais o conhecimento e a solidariedade dos/das que lutam em qualquer campo de batalha, real ou virtual. A criação do Setorial Virtual do PT é plenamente possível. Tão certo quanto despertará dúvidas e senões, também atrairá muita gente que já compreende as redes virtuais como espaços de construção real. O desafio está lançado. Mãos à obra.
Rafael Tomyama é militante do PT em Fortaleza.

Intelectuais italianos apóiam Lula no caso Battisti

“Caso” Battisti: Eis por que estamos com Lula


Um grupo de intelectuais italianos radicados na França lançou na última
terça-feira (4) documento apoiando a decisão do Brasil de não extraditar o
ex-ativista Cesare Battisti e desmascarando os argumentos do governo
ditreitista de Sílvio Berlusconi. A mídia italiana e alguns políticos que
conforme a ocasião se apresentam como de “esquerda” são aqui submetidos a
severa crítica


Somos um certo número de italianos residentes no exterior, onde trabalhamos
no ensino e na pesquisa, estupefatos com a postura da mídia e da “opinião
pública” do nosso país diante do “caso” Cesare Battisti. A jornalista Anais
Ginori, em La Reppublica de 2 de janeiro, parece por exemplo estigmatizar o
“júbilo dos intelectuais franceses” (arbitrariamente identificados com
Bernard-Henri Lévy e Fred Vargas) diante da recusa de extraditar Battisti,
decidida pelo presidente brasileiro Lula da Silva.
Quanto à força de oposição ao atual governo Berlusconi, estamos
particularmente surpresos ao constatar como alguns parlamentares do PD se
recordam repentinamente de sua matriz ideológica, apelando inesperadamente
ao presidente Lula enquanto “homem de esquerda”, com o único propósito de
questionar seu gesto de precaução em relação aos direitos de um preso.

Contrariamente ao que se tem escrito e dito, nós acreditamos que a decisão
de competência do presidente brasileiro não é resultado de um juízo
superficial e apressado sobre nosso país, mas resultado de uma avaliação
aprofundada e pertinente da situação política e judiciária italiana. O
Brasil é o último de uma longa lista de países, após Grécia, Suíça, França,
Grã Bretanha, Canadá, Argentina, Nicarágua, que se recusaram a colaborar com
a justiça italiana. Será um acaso?

Na verdade, a fúria do governo italiano em pedir a extradição de Battisti se
configura hoje mais como a vontade de exorcizar um inimigo vencido (quase
uma obsessão de eliminar), do que como uma sóbria, autêntica exigência de
justiça. Surpreendente, em particular, uma tal perseverança “justiceira” da
parte de um executivo tragicamente incapaz de lançar luz sobre a carnificina
dos anos sessenta e setenta, unanimimente considerada pelos historiadores
como a “mãe” de todo o terrorismo.

Recordemos como em seu favor o “zero responsáveis” sobre o atentado da Praça
Fontana em Milão e da Praça de Loggia em Brescia tem sido permanentemente
consagrado, respectivamente pela Suprema Corte em 3 de maio de 2005 e, mais
recentemente, pela Corte de Inquérito em 16 de novembro de 2010. Ou uma
magistratura severa que garante a imparcialidade do Estado, como sugerido
recentemente por Alberto Asor Rosa[1] em uma de suas freqüentes colunas no
Manifesto!

Uma tal diferença de tratamento em investigar a responsabilidade, que não
tem como não saltar aos olhos da opinião pública internacional, não é apenas
o efeito de uma permanência endêmica, na Itália, de uma classe corrupta no
governo ou mesmo para-fascista (de Alemanno, ex-membro de esquadra fascista,
prefeito de Roma, ao insolente ex-MSI [2] La Russa, Ministro da Defesa).
Não, essa tara originária é antes de tudo fruto da política de emergência
que tem sido o leitmotiv da política italiana do pós-guerra e na qual a
esquerda se deixa seduzir, até a morte rápida como uma fatalidade, quando
não tranqüilamente acomodada, por uma consolidada incapacidade de propor uma
alternativa global a uma ordem capitalista tardia.

Essa “emergência” prolongada foi a base da participação de setores inteiros
do Estado nas atrocidades criminais que ensanguentaram o passado recente da
história nacional, impedindo a emancipação social e debilitando
antropologicamente, molecularmente, a cotidianidade. Fato altamente
significativo, a classe política atualmente no comando na Itália é herdeira
direta desses poderes um dia ocultos (“Piano solo”, “Gládio”, “P2” [3]), mas
agora definitivamente desembaraçada e bem decidida a ocupar o terreno
político e midiático, para defender seu próprio interesse vital ameaçado:
aquele de uma vida reduzida a uma pura, absurda axiomática empresarial.

A “anomalia italiana” não é senão o resultado dessa sistemática subordinação
dos órgãos garantidores do direito à “exceção” do comando político e ao seu
diktat selvagem sobre a consciência. Basta pensar que um dos mais altos
postos da República, abaixo apenas do presidente Giorgio Napolitano, é hoje
confiado a um “magnata” da mídia cuja “acumulação primitiva”, no curso dos
anos sessenta e setenta, tem sido caracterizada por aqueles que a definiram
eufemisticamente como “ilegalmente comprovada”.

Portanto, acreditamos que o forte envolvimento do Estado italiano na guerra
civil “guerreada” que teve lugar na Itália nos anos setenta, paralelamente
ao conflito (não somente e nem sempre “frio”) encenado pelos dois blocos
internacionais opostos e parcialmente especulares, torna impossível desatar
o nó histórico emerso com o “caso” Battisti no quadro das instituições e das
leis atualmente vigentes na Itália. Somente uma medida que reconheça a
enorme responsabilidade do Estado na degeneração do embate político entre os
anos sessenta e oitenta, e não a grotesca exibição de orgulho nacional a que
estamos assistindo nesses dias, pode permitir à Itália sair do “déficit” de
credibilidade internacional que danifica fatalmente sua imagem. Enquanto tal
medida não se concretizar, justiça não poderá ser feita e o pedido de
extradição de ex-terroristas aparecerá fatalmente como atalhos vexatórios,
quando não como tentativas mentirosas de reescrever a história.


Saverio Ansaldi – Universidade de Montpellier III
Carlo Arcuri – Universidade de Amiens
Giorgio Passerone – Universidade de Lille III
Luca Salza– Universidade de Lille III.

Notas
[1] Alberto Asor Rosa é um intelectual conhecido na esquerda italiana desde
os anos sessenta. No final dos anos setenta, como quadro do Partido
Comunista Italiano, defendia posições teóricas que buscavam se contrapor ao
protagonismo nas lutas sociais dos sujeitos políticos dos quais Cesare
Battisti fazia parte. Vide sua teoria da “primeira” e “segunda sociedade”.
(N. do T.)
[2] Partido formado no pós-guerra por aderentes do fascismo. Foi na prática
o partido fascista italiano até sua dissolução na Aliança Nacional em 1995.
(N. do T.).
[3] Gladio era o nome de uma operação clandestina da Otan no pós-guerra, com
objetivos anti-comunistas. Entre suas ações estavam atentados como a chamada
“bandeira trocada”. P2 era uma loja maçônica, envolvida com a Operação
Gladio, com a máfia e em escândalos financeiros. O ‘Piano solo’ foi um plano
no qual a Gladio esteve envolvida e que conseguiu tirar do governo italiano
os ministros socialistas, em 1964. (N. do T.).

Fonte: Uninomade.org
Traduzido do italiano

Já é um começo de golpe



Rui Martins alerta em artigo no blog "Direto da Redação" para o iminente golpe em curso.

Se você faz parte dos 87% que apoiavam o governo Lula, fique alerta – no mais escondido covil de serpentes e escorpiões trama-se um golpe institucional contra o governo de Dilma, mesmo se esse governo começou com 62% de aprovação popular.

Desta vez, ao contrário do golpe de 1964 não se trama nos quartéis com o apoio declarado dos Estados Unidos. A trama é bem mais sutil – não se acena com a paranóia do perigo vermelho, mas com base em pretensos arrazoados jurídicos se quer desmoralizar e desautorizar o ex-presidente Lula e se colocar no ridículo a presidenta Dilma, que será destituída do poder de decisão.

O golpe não parece financiado só por dólares americanos, como no passado, mas igualmente por euros vindos da Itália. Aparentemente trata-se da extradição ou não extradição de um antigo militante italiano, Cesare Battisti, condenado num processo italiano fajuto à prisão perpétua, mas a verdade submersa do iceberg é bem outra.

Quem leu as revelações do Wikileaks quanto as opiniões dos EUA sobre Lula, considerado suspeito, e Celso Amorim, considerado antiamericano, e que acompanhou a campanha contra a eleição de Dilma, sabe muito bem haver interesses de grupos internacionais em provocar uma crise institucional no Brasil.

Será também a maneira de grupos econômicos estrangeiros impedirem a atual emergência do país como potência mundial. A Itália neofascista de Berlusconi com seu desejo de recuperar um antigo militante esquerdista é apenas uma providencial pretexto para os grupos políticos e econômicos internacionais incomodados com o Brasil líder do G-20 e vitorioso contra os EUA na OMC.

O que se quer agora, com o caso Battisti, é subverter as instituições brasileiras, mergulhar-se o país numa confusão entre o poder do Executivo e o poder do Judiciário, anular-se uma decisão do ex-presidente Lula para se abrir o caminho a que governança do Brasil seja sujeita à aprovação do STF. Para isso conta-se, como em 1964, com os vendilhões da nossa soberania e com os golpistas da grande imprensa.

Simples e prático, para se evitar que a presidente Dilma governe, vai se tentar lhe por um cabresto e toda decisão sua que desagrade grupos internacionais deverá ser anulada pelo STF. Por exemplo, a questão da exploração petrolífera do pré-sal poderá ser uma das próximas ações confiadas ao STF.

Se Dilma quiser renacionalizar as comunicações, já que a telefonia é questão estratégica, o STF poderá dizer Não e também optar pela privatização da Petrobras. Delírio ? Não, os neoliberais inimigos de Lula e da política nacionalista, derrotados nas eleições, poderão subrepticiamente retirar, pouco a pouco, os poderes da presidenta e do Legislativo, para que fique apenas com o STF o governo ou o desgoverno do Brasil.

O próprio advogado de Cesare Battisti, acostumado com leis e recursos, nunca viu uma decisão presidencial ser posta em dúvida por um ministro do STF, e por isso falou em « golpe » tal como havíamos alertado.

Por sua vez, o atual governador do Rio Grande do Sul, que aceitou o pedido de refúgio de Battisti quando ministro da Justiça, não aguentou a decisão do ministro Cezar Peluso do STF de colocar em, questão a validade da decisão do presidente Lula e declarou como « ilegal » e « ditatorial » o ato do ministro Peluso, do qual decorre um « prejuízo institucional grave » para o país e um « abalo à soberania nacional ».

Faz dois anos, Tarso Genro concedeu refúgio a Battisti, que deveria estar em liberdade desde essa época. Mas o ato liberatório foi sustado pelo ministro Gilmar Mendes, que submeteu a questão ao STF, o que já consistia um ato arbitrario. Embora os ministros tenham decidido por 5 a 4 pela extradição, competia ao presidente a decisão final, o que foi reconhecido, depois de uma tentativa de reabertura do julgamento.

O presidente Lula justificando seu ato, dentro do permitido pelo Tratado mútuo de Extradição entre Brasil e Itália, com base num documento da Advocacía Geral da União, negou a extradição e a própria Itália entendeu o ato como definitivo. Ora, a decisão do ministro Cezar Peluso de pôr em dúvida a decisão do presidente Lula e reabrir a questão vai além de sua competência e fere uma decisão soberana.

É tentativa ou já é golpe, no entender do advogado Luiz Roberto Barroso, é ilegal e ditatorial segundo o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, opiniões que vão no mesmo sentido de Dalmo Dallari e de outros juristas.

O que iremos viver, quando o ministro Gilmar Mendes se dignar a colocar na agenda do STF o « julgamento da decisão do presidente Lula », se a maioria, por um voto que seja, decidir anular a decisão de Lula ? Será que a presidenta Dilma aceitará essa intromissão do STF no poder do Executivo ? Em todo caso, será o caos.

É hora de reagir, antes que seja tarde demais.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O Legado Lula & A Campanha Que Não Acabou


http://seressemmedo.blogspot.com/2011/01/o-legado-lula-campanha-que-nao-acabou.html
A Campanha 2010 está muito longe de terminar.

Ela começou há séculos e o êxito do Exmo. Sr. Presidente Lula e a vitória da Exma. Sra. Presidenta Dilma apenas deram um novo, e talvez sem precedentes, fôlego para esta campanha a que me refiro e na qual sempre estive e estarei engajado desde sempre e para sempre.
A campanha a que me refiro é contra o colonialismo mental e moral, contra o complexo de vira-latas.
É contra a castificação e o ódio classes.
Contra o maniqueísmo, a simplificação manipulativa do mundo em bem e mal, verdade e mentira, heróis e vilões, esquerda e direita, a dogmatização, a visão por um lado fragmentária da vida e por outro monolítica da tal moral, de conceitos e preconceitos, a mecanização do humano.
Componentes que acredito emburrecedores deste país e da humanidade e cuja discussão permanente tem, na minha humilde opinião, importância ainda maior para o destino do Brasil e do planeta que quaisquer fatores macro, micro, meso-econômicos que venhamos a discutir.
Porque o presente pode e deve ser permeado por diversas discussões temporais e pragmáticas.
Mas o futuro, o destino, o longo prazo é todo feito de intangíveis.
São os intangíveis que viabilizam a construção do palpável, do tangível, dos "pés-no-chão com pão-na-mesa e paz-na-alma", em bases sólidas e sustentáveis.
E não foi me dado conhecer nos meus 40 e poucos anos de vida alguém que encarnasse tão bem e consistentemente - e cada vez mais ampla e profundamente - todo este imenso leque de "quebra-paradigmas" quanto o Exmo. Sr. Presidente Luís Inácio Lula da Silva.
E falo disso em escala histórica e planetária.
No que se refere ao Brasil, o recém-findo Governo teve ainda a capacidade de reinaugurar, mais de 30 anos depois - ou mais –, as expressões "interesse nacional" e "visão estratégica".
Além de fundar em bases consistentes um processo seminal - que tende e deve ser aperfeiçoado - de evolução democrática pelo hábito contínuo de auscultar a sociedade através das Conferências Nacionais e suas variantes.
Vale ressaltar, que nada disso me parece surgido por súbito lampejo ou fruto de quaisquer condicionamentos contextuais ou macroambientais.
Toda a história do Exmo. Sr. Presidente da República - desde a fundação do Partido dos Trabalhadores -,
  • sempre cercado por expoentes do pensamento brasileiro, e do exterior;
  • sempre em sintonia com as forças mais mobilizadas e ativas da sociedade civil nacional, e muito da internacional;
  • pelo esforço contínuo no pensamento e repensamento, planejamento e replanejamento do País sob as mais amplas perspectivas e visões intelectuais;
  • contrapondo os debates e seminários incessantes e intermináveis com as pernas na estrada e o "pé-no-barro" para conhecer verdadeiramente o Brasil de verdade, tão profundo que impenetrável ao pensamento dos centros intelectuais;
  • e tudo isso sempre em tensão e contraposição permanentes, somente passíveis de convivência pela vocação para o diálogo e negociação, pela "desmaniqueização" e "desdogmatização" de confrontos que seu descortínio e liderança sempre impuseram a todo este grandioso e lento processo de maturação; 
tudo isso apontava para sua obra ora realizada.
Obra que conseguiu, apenas, surpreender mais uma vez a maior e sobreviver - pagando altos preços, porém válidos já que sem outra opção, enfim - a seu único possível algoz: as forças enraizadas da cegueira nacional e dos interesses coloniais/colonizados de sempre.
E fico muito preocupado com toda a discussão sobre o legado dos Governos Lula.
Discussões que são, sem dúvida, importantes, mas não podem encobrir o legado maior que está na quebra seqüencial e persistente dos principais paradigmas que sempre entravaram o aproveitamento pleno do gigantesco potencial deste país e sua gente.
Tenho como "imperativo nacional pessoal" o exorcismo destes velhos paradigmas e a entronização dos novos.
Acredito que a qualquer descuido, ao menor vacilo, os moribundos fantasmas voltarão a assombrar nosso tão jovem promissor destino de "ex-País-do-Futuro" - como os incidentes imediatamente após as nossas eleições e os acontecimentos que se sucedem nos Estados Undos (que em muitos pontos guardam intensa relação com nossa realidade de agora) não se cansam em avisar.
E vou insistir e persistir nestes temas, mesmo que – se necessário - como voz dissonante, "ingênua", "romântica", sem eco e isolada até.
É esta a campanha na qual estou e continuarei engajado.
O êxito dos Governos do Exmo. Sr. Presidente Lula e a vitória na recente campanha eleitoral apenas deram um novo - e talvez sem precedentes - fôlego para a campanha maior a que continuo a me dedicar.

Roberto Freire não tem olhos para a incúria da dinastia tucana em São Paulo

Autor: 
Da editoria-geral do Terra Brasilis
Instalado, certamente, na sua luxuosa residência no bairro nobre de Alto Pinheiros [SP], Serra “twittava”. Lá pelas tantas, resolveu sugerir – para o final de semana [espera-se que não chova forte em São Paulo, para o bem dos que sofrem com o desgoverno tucano] – a leitura do que ele considera três grandes artigos. A trilogia é assinada por Roberto Freire [o ex-comunista que, a título de reciclagem intelectual, bandeou-se para o lado da "elite cheirosa"]; Fernando Gabeira [o ex-guerrilheiro e intelectual que vê, em seu umbigo, sua própria imagem. Faz-me lembrar o sr. Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, não o  compositor e cantor [1]]; e, finalmente, por Guilherme Fiuza [a quem - por sua cantilena desprezível contra o governo Lula e, agora, contra o governo Dilma - cognominamos de "Guilherme Fiuza: meu nome é leviano" [2]].
O que se pode extrair, de pelo menos duas, dessas indicações de leitura? Que Serra quer fazer soar sua voz  e mantê-la acesa, de olho em 2014 [seriam prepostos os autores de tais artigos?]. Sentindo que alguns figurões do que se chama PIG já o escorraçam, desesperado ante a possibilidade de ver seu nome rifado da futura disputa no próprio ninho tucano [Geraldo Alckmin seria o novo "ungido"?], o  candidato derrotado recentemente nas urnas elege determinadas análises e as dissemina com dois tácitos objetivos:
  1. desqualificar os oito anos do governo Lula [embora alardeasse, em campanha, que daria continuidade às ações do governo petista]; e
  2. desconstruir Dilma Rousseff [ele já dera mostras disso em pleno embate eleitoral de 2010, com a hipócrita lengalenga do aborto, por exemplo. Descobriu-se depois que a "inimiga", aquela que "comia criancinhas" dormia a seu lado. Com a palavra a sra. Mônica Serra...]. Dilma que, segundo o presidente do PSDB, seria “um poste” facilmente lançado ao chão. Mas a história tripudiou das palavras infelizes do ex-senador e “fujão”  Sérgio Guerra [decidiu concorrer a uma vaga na Câmara Federal por Pernambuco, ao invés de se lançar à reeleição para o Senado. Tivesse se arvorado a isso, teria sido vergonhosamente derrotado].
Como se poderá ler, a temática desses “grandes artigos” – sugeridos pelo Serra – gira em torno da chuva, de Lula e de Dilma Rousseff.
Se nos detivermos, em especial, no tema chuva, in A tragédia anunciada – de Roberto Freire [leia na íntegra, abaixo], perceberemos um quê de engodo, de desonestidade intelectual por parte do articulista pernambucano que foi se abrigar, em São Paulo, debaixo de um guarda-chuva com mais de 120 mil votos a fim de  se eleger deputado federal [Aqui em Pernambuco não se elegeria, usando mais um clichê, nem para síndico de prédio].
Mas onde estariam o engodo e a desonestidade intelectual desse ex-comunista, de “mente arejada” com ideias novas?
A leitura do parágrafo inicial do tal artigo nos conduz a uma intervenção analítica séria, sem o furor dos palanques e das cores partidárias, apontando para a preocupação de um homem público com os problemas do povo e a subentendida solidariedade com aqueles que perdem “vidas, famílias e sonhos” por causa das “chuvas fortes, [dos] deslizamentos e inundações”. Nada mais prazeroso de se ouvir. Sobretudo, se essas palavras vêm de um homem público que se mostra comprometido com as agruras do povo que ele diz representar.
Contudo, basta avançar na leitura para se descobrir a farsa discursiva ou o exercício masturbatório com belas palavras no exclusivo intuito de “levar no bico” [outro clichê] o leitor desavisado. A farsa se confirma nas linhas seguintes do artigo, pois elas focam o problema das chuvas, dos deslizamentos e das inundações, a partir de um manifesto recorte geográfico: a região serrana do Rio de Janeiro. Enquanto, no texto, a palavra “Rio” [de Janeiro] aparece três vezes – como a permear o eixo temático a que se apega Roberto Freire -, a palavra “São Paulo”  parece não existir.
São Paulo? Nem pensar! Esse estado da federação não entra na análise “isenta” do articulista. É como se, no estado mais rico do país, não tivessem ocorrido chuvas, deslizamentos e  inundações.
A “incúria [desleixo, negligência] dos diversos níveis de poder público”, segundo Freire, parece atingir, apenas e tão somente, os governantes do Rio de Janeiro e o governo federal [diga-se Lula e, agora, Dilma Rousseff].
Os governantes do PSDB e côngeneres [DEM/PPS] em São Paulo [estado que o agora deputado federal Roberto Freire representa] passam ao largo da possibilidade de serem “punidos criminalmente por sua incúria”. A dinastia tucana se blinda, no arranjo discursivo do presidente do PPS, da falta de zelo com a coisa pública que acomete os governantes de outros estados. Talvez, essa blindagem tenha sua razão de ser. Afinal de contas, receber R$ 12 mil como um fantasma da Empresa Municipal de Urbanismo [EMURB] e da SP-Turismo [3] é motivo de sobra para ser grato a quem promoveu tal “boquinha” [clichê, de novo...]. É preciso dizer quem?
Felizmente existe a Blogosfera independente e combativa para desmistificar discursos como o do deputado federal Roberto Freire. Felizmente existe a Blogosfera que acredita não ser São Pedro o causador do caos em São Paulo, quando as chuvas vêm.
Ademais, aguarda-se que o deputado federal Roberto Freire – ao propor que a nova legislatura convoque uma CPI a fim de investigar as tragédias ocasionadas pelas chuvas, inundações  e pelos deslizamentos – não se esqueça de que São Paulo  é parte da federação, com um governo eleito democraticamente há muito tempo. Que os governantes de Sampa sejam chamados a dar explicações por sua incúria.
Ao Serra, meus agradecimentos pelas indicações de leitura [4]. Leituras proveitosas. Sobretudo, quando, por meio de uma abordagem vertical, enxergamos a desfaçatez de certos homens públicos. Homens públicos que, por malabarismos argumentativos, tentam impingir na testa do povo a condição de inepto e, assim, trazê-lo sob o jugo do cabresto.
Retratos na parede para o caso de Roberto Freire não se lembrar de que a incúria pode estar em São Paulo, também:


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A tragédia anunciada
Por Roberto Freire*
Há alguns anos várias catástrofes naturais vêm atingindo brasileiros das mais variadas regiões, ocasionando perdas de vidas, de famílias e de sonhos, tendo como motivo comum chuvas fortes, inundações e deslizamentos. Como um padrão sinistramente repetitivo.
Sabemos agora que os necessários investimentos que poderiam minimizar tais tragédias simplesmente não foram feitos.
Segundo o site Contas Abertas, o governo federal deixou de investir, entre 2004 e 2010, mais de R$ 1,8 bilhão em obras de prevenção de danos provocado pelo clima. Esse é o valor do orçamento autorizado para o programa de “prevenção e preparação para desastres” e o que foi, de fato, realizado.
A tragédia que acontece na região serrana do Rio é fruto da incúria dos diversos níveis de poder público, agravada pela incompetência do governo federal em definir um efetivo programa de prevenção que livre as pessoas de nossas cidades das áreas de risco em que vivem, com estrutura de serviços de engenharia e realocação de populações das áreas de preservação de mananciais e encostas.
A violência da catástrofe do Rio resulta do descaso com que o Estado trata a ocupação do solo. Situação agravada nesses últimos oito anos por um governo de faz-de-conta, cuja única preocupação foi ocupar diariamente os palanques reais e virtuais para fazer graça de sua própria incompetência.
Resultado, os gastos no socorro às vítimas dos desastres são quase oito vezes maiores do que aqueles aplicados na prevenção a desastres naturais. Segundo o Contas Abertas, a verba desembolsada na rubrica “resposta aos desastres e reconstrução”, entre 2004 e 2010, chegou a R$ 4,8 bilhões.
Ou seja, de cada R$ 10 gastos com as chuvas, R$ 9 foram para remediar os danos e só R$ 1 para prevenir. Não por acaso o governo brasileiro, em documento assinado pela secretária Nacional de Defesa Civil, admitiu à Organização das Nações Unidas (ONU), em novembro do ano passado, que grande parte do sistema de defesa civil vive um “despreparo” e que não tem condições sequer de verificar a eficiência de muitos dos serviços existentes.
Como fica patente, na descoordenação que estamos assistindo dos vários agentes envolvidos no socorro às vítimas do Rio.
Uma questão deve ser colocada desde já: de quem é a culpa pelas mortes e pelos prejuízos? Defendo que o Ministério Público, que tem o dever constitucional de proteger a cidadania, investigue e acione a Justiça para punir os culpados e ressarcir os danos sofridos.
Afora isso, está na hora de o Parlamento começar a nova legislatura convocando uma CPI para investigar a fundo por que tais tragédias, que em países de democracia avançada e governos competentes, tais danos são mínimos, e em nosso país, o número de mortos e valor dos prejuízos causados não param de crescer.
Quando governantes e administradores forem punidos criminalmente por sua incúria e o Estado for obrigado a ressarcir os prejuízos, estaremos dando um passo importante no resgate da cidadania, e não mais viveremos uma tediosa crônica do esquecimento a que são relegadas essas tragédias.
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*Roberto Freire é presidente do PPS [Fonte: Brasil Econômico]

Adir Tavares

Como, você avalia atualmente a Igreja Católica?
>A Igreja nos ensinou que Deus quis trazer-nos as desgraças e assim nos leva à resignação. Isso não é cristão. A Igreja procura fazer Deus intervir para nos forçar a obedecer e a não pensar. Muitos discursos sobre Deus falam dele, mas quando alguém fala bem do ser humano, isso me diz muito de Deus. A Instituição segue impávida em seu pedestal, longe do povo e de Deus. A seguir assim, se converterá em uma seita, porque muitas pessoas estão partindo para outras religiões. A Igreja vive uma hemorragia. A Igreja deve mudar, modernizar-se, reconhecer que os casais têm direito a se divorciar e a usar a camisinha, que as mulheres podem abortar, que homens e mulheres podem ser homossexuais e se casar, que as mulheres podem chegar ao sacerdócio e ter acesso às esferas de decisão. Deve-se revisar a disciplina do celibato para que os sacerdotes possam amar como qualquer outro ser humano, sem ter que viver relações clandestinas, como delinquentes.
A situação atual é perversa e destruidora tanto para os indivíduos como para a Igreja. O Vaticano é a última monarquia absoluta da Europa. A Igreja deve aceitar a democracia em todos os níveis. E deve mudar de modelo porque o atual não é evangélico.
O que você pensa da Teologia da Libertação, que teve um desenvolvimento importante na América Latina?
Eu me interessei por ela porque é uma teologia que fala dos pobres. Não se fala da liturgia, nem do catecismo, nem da Igreja; fala-se do povo pobre. Ensina que são os próprios pobres que devem tomar consciência da necessidade de sua libertação.
Alguns de nós fomos muito tocados pelos ensinamentos de Dom Helder Câmara, no Brasil, um grande teólogo (2); do Monsenhor Leónidas Proaño, no Equador (3); de Oscar Romero, em El Salvador, e outros sacerdotes latino-americanos, principalmente. Para mim foi um choque brutal quando Romero foi assassinado celebrando a missa, em 24 de março de 1980. Ele havia deixado a Igreja dos poderosos para estar com os pobres. Achei admirável essa conversão.
Na América Latina, existiram alguns padres e freiras que pegaram em armas (4). Eu respeito sua decisão, não os julgo, ainda que não esteja de acordo com ela por ser um adepto da não-violência.
Evidentemente, a Teologia da Libertação é perigosa para os poderosos. Quando os pobres são submissos aceitam seu triste destino, então não há nada que temer, são pão abençoado para os poderosos. Os detentores do poder podem dormir tranquilos. Mas se os pobres despertam e adquirem consciência de sua condição, convertendo-se em atores da mudança, então isso produz medo no poder.
Parece que é terrível quando os pobres tomam a palavra e questionam a instituição eclesiástica. No mesmo instante, ela diz: “Atenção, cuidado com esses comunistas”. Porque sempre prevaleceu a obsessão da infiltração comunista. Por isso, regularmente, as ditaduras, os governos repressivos e o Vaticano se unem em um combate comum. Infelizmente não existem muitos rebeldes na Igreja, porque a instituição sempre formou para a obediência e para a submissão.
Monsenhor Gaillot
Daqui http://bit.ly/fzsUQi
Na verdade, a igreja católica virou as costas para o pobre, é só observar o preço da mensalidade nas escolas mantidas por essa igreja que cobra até para rezar missa.

A Igreja Católica contabilizando o desgaste das eleições

Excelente matéria do José Maria Mayrink, composta de três partes. Aqui, vai uma. Não encontrei as outras duas no Estadão Online. Quem achar, que ajude a trazer.
Por JB Costa
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110130/not_imp672933,0.php
Igreja Católica no Brasil vive desafios e esperança
Evasão de fiéis e secularização enfraquecem Igreja, que vê alento nos movimentos carismáticos
30 de janeiro de 2011 | 0h 00
 José Maria Mayrink - O Estado de S.Paulo
greja Católica vive uma crescente tensão interna por causa da evasão de fiéis e da distância entre sua pregação e a prática religiosa. A revelação, em novembro, de que a instituição ocupa o segundo lugar em credibilidade, abaixo apenas das Forças Armadas, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entusiasma o episcopado, embora alguns teólogos e assessores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) atribuam essa boa imagem não a seu desempenho, mas ao descrédito de concorrentes, especialmente da classe política. A pesquisa da FGV prova, na avaliação do professor Felipe de Aquino, membro do movimento carismático Associação Canção Nova, que a Igreja mantém seu prestígio na sociedade. "A grande maioria do povo se professa católica, respeita e acata posicionamentos morais", argumenta. A Renovação Carismática Católica e outros grupos, como o Opus Dei e as novas comunidades , seguem o Vaticano. "Em questões políticas pode haver divergências, mas mesmo assim a Igreja tem voz ativa, como ocorreu no caso da aprovação da Lei da Ficha Limpa", observa Aquino.
Outro exemplo recente foi a tomada de posição de parte do episcopado durante a campanha presidencial. Alguns bispos, como d. Luiz Gonzaga Bergonzini, de Guarulhos, combateram Dilma Rousseff com o argumento de que ela e seu partido eram favoráveis à descriminalização do aborto. A crítica repercutiu na imprensa, sobretudo depois que o papa Bento XVI aconselhou os bispos a saírem às ruas em defesa da defesa da vida, num discurso interpretado por d. Bergonzini como apoio à sua atitude.
Houve reação a esse posicionamento dentro da própria Igreja, o que demonstra como ela está dividida. "Foi um espanto os três bispos da presidência do Regional Sul 1 (São Paulo) recomendarem um texto de condenação da candidatura de Dilma Rousseff nas eleições, apoiando d. Bergonzini, porque se jogou fora a colegialidade, fugindo à orientação da CNBB, quando d. Geraldo Lyrio Rocha (presidente da entidade) teve de dizer que cada bispo faz o que quer", reagiu o padre José Oscar Beozzo, teólogo e respeitado historiador da Igreja. "É um sintoma de que não há consenso, os bispos quebraram uma tradição de mais de 45 anos", acrescentou.
Essa intromissão na campanha eleitoral incomodou, mas não deverá impedir um bom relacionamento com o novo governo, na avaliação de d. Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da Pontifícia Universidade Católica de Minas. "Não diria que a Igreja tenha perdido a capacidade de diálogo, apesar de alguns arranhões, porque isso poderá ser recuperado, sem sequelas", disse o bispo. Em sua opinião, mais do que prestígio, é a sua estatura moral que a Igreja deve preservar, nas relações com a sociedade e com o governo.
"A Igreja sempre falou de política, sempre defendeu valores éticos", afirmou d. Mol, lembrando a força de vozes da hierarquia que se destacaram contra a ditadura militar e aquelas que atualmente se levantam em defesa dos pobres. "Havia gente de outra linha, até bispos muito afinados com o regime militar." O que chamou a atenção nas eleições de 2010 foi o fato de ter prevalecido uma voz de membros da Igreja contra um dos candidatos, de maneira contundente e direta. "Quando há dois candidatos e se diz para não votar em um, é como se dissesse para votar no outro, sem alternativa", criticou o bispo.
Para o padre Manoel Godoy, diretor do Instituto de Teologia Santo Tomás de Aquino, em Belo Horizonte, o fato de Bento XVI ter aconselhado os bispos brasileiros, na véspera do segundo turno das eleições, a saírem às ruas em defesa da vida, contra o aborto, "foi um paradoxo, um episódio contra o toque de recolher ao qual a CNBB vem sendo submetida nos últimos anos".
Disputa interna. O dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, atribui a uma disputa interna no episcopado a polêmica criada em cima da discussão sobre o aborto. "Acredito que todo esse conflito à sombra do processo eleitoral tinha como alvo não evitar a eleição da Dilma, mas assegurar aos conservadores a vitória da eleição na CNBB", afirmou o teólogo e ex-assessor do presidente Lula no programa Fome Zero.
As denúncias de pedofilia no clero repercutiram relativamente pouco no Brasil, porque os casos ocorridos aqui foram poucos, em comparação com outros países. "Se a Igreja já vinha sofrendo uma crise de credibilidade, a pedofilia aprofundou essa crise e não adianta dizer que a pedofilia está presente na família e no mundo civil, porque o padre foi trabalhado, desde o século 16, como um alter Christus ("outro Cristo"), uma figura tão exaltada que é impossível deixar de haver consequências", disse o padre Godoy. Com a ressalva de que não tem "a mentalidade conspiracionista" de achar que a imprensa é contra a Igreja, ele admite que a repercussão da pedofilia é inevitável, por causa da imagem de pessoa venerada, culta e sábia que se criou do padre.