quarta-feira, 27 de abril de 2011

Embora ele está longe

Eu vou encontrar meu amor um dia

Algum dia, quando meus sonhos em realidade



Algum dia eu vou encontrar meu amor

Alguém para chamar de meu

E eu vou conhecê-lo no momento em que nos encontramos

Para o meu coração vai começar pular uma batida

Algum dia nós vamos dizer que eu faço

Coisas que longing para

Embora ele está longe eu vou encontrar meu amor um dia

Algum dia, quando meus sonhos em realidade.



em algum lugar esperando por mim

há alguém que eu desejo para ver

alguém que eu simplesmente não posso ajudar, mas adoro

alguém que me emociona sempre



someday My Prince Will Come

um dia eu vou encontrar um

embora ele esteja distante

ele vai encontrar o meu amor um dia

um dia, quando meus sonhos em realidade

oh por favor, faça meus sonhos
Letra da música Algum dia meu príncipe virá (Branca de Neve), (tradução)
Letra da música (tradução) (in English)

segunda-feira, 25 de abril de 2011


A audiência com o ministro Paulo Bernardo

Na véspera do feriado, representantes de 20 entidades que lutam pela democratização da mídia tiveram uma audiência, de quase duas horas, com o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, em Brasília. Foi o primeiro encontro oficial de um ministro desta área estratégica com um conjunto de movimentos do setor, fato inédito que indica uma postura mais aberta ao diálogo.
Com autonomia e unidade, as entidades apresentaram as suas críticas aos primeiros meses da nova gestão. Concentraram as queixas em dois itens: a demora na apresentação do projeto do novo marco regulatório da comunicação e os sinais de “privatização” do Plano Nacional de Banda Larga. Como proposta concreta, sugeriram ao ministro a criação de uma mesa permanente de diálogo.
A “bronca” sobre a banda larga
Paulo Bernardo, bem humorado e cortante nas respostas, ouviu atentamente, fez anotações e não fugiu às polêmicas. Quanto ao PNBL, ele relatou a reunião que acabara de fazer com a presidenta Dilma Rousseff, na qual “também levei uma bronca”. Garantiu que o governo elevará a velocidade do serviço – “agora só falo em megabytes” – e endurecerá as negociações com as teles.
Sem tergiversar, o ministro descartou a hipótese de a banda larga ser um serviço prestado apenas em regime público. Alegou que “falta dinheiro” e que há muitos obstáculos legais. No entanto, ele confirmou a disposição do governo de acelerar o plano. Em primeira mão, informou que a presidenta Dilma autorizou investir mais R$ 1 bilhão por ano no PNBL. Paulo Bernardo também enfatizou que a Telebrás foi “ressuscitada” pelo atual governo e que terá papel “regulador” na implantação da banda larga.
Marco regulatório vem aí
Já no que se refere ao novo marco regulatório das comunicações, Paulo Bernardo informou que o projeto elaborado pela equipe do ex-ministro Franklin Martins está na fase final de análise e que o debate será aberto à sociedade no segundo semestre. Diante do ceticismo dos presentes, ele foi enfático no compromisso: “O projeto será enviado entre 1º de julho e 31 de dezembro”.
O ministro alertou que o debate sobre a regulação da mídia será “uma briga longa e difícil”, que alguns setores tentarão rotular a iniciativa de “censura” e que será necessária intensa discussão entre parlamentares, já que para ser aprovado o projeto depende da “formação de uma maioria no Congresso Nacional”. Mesmo assim, insistiu: “O governo está decidido a provocar este debate”.
Mesa permanente de diálogo
Por último, o ministro Paulo Bernardo manifestou simpatia pela idéia da constituição de uma mesa de debate permanente com as entidades que lutam pela democratização da mídia – iniciativa que já tem como precedente a comissão montada entre secretaria-geral da Presidência e a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Ele ficou de encaminhar a proposta para análise. Também sinalizou positivamente com a proposta da convocação da 2ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
Em síntese, a audiência foi positiva. Ela mostrou maturidade dos interlocutores, que apresentaram abertamente críticas e sugestões. Serviu para evidenciar a urgência de avanços no PNBL, alvo da gula das teles, e para indicar que o governo está disposto a enviar o projeto de novo marco regulatório. Na prática, confirmou que será preciso intensificar a pressão dos movimentos sociais para garantir a banda larga e a regulação da mídia. A briga é de titãs e não permite qualquer tipo de passividade e omissão.
*Matéria publicada originalmente no blog do Altamiro Borges

Patrus Ananias fala sobre desafios da gestão Dilma Rousseff

Por Dayana Aquino
Principal personagem da maior bandeira do governo Lula, o ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Patrus Ananias, contabilizou algumas conquistas nos seis anos em que esteve à frente da pasta, ganhando admiradores, inclusive entre a oposição.
De volta à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Ananias conversou com o Brasilianas.org sobre as políticas sociais que comandou e sobre os desafios que devem ser enfrentados na gestão da presidente Dilma Roussef.
Em um momento em que diferentes pastas estão reunidas para planejar uma incursão mais incisiva no combate à pobreza – meta do atual governo que pode se configurar em um desafio maior do que o do governo anterior – sugestões e avaliações vêm de todos os lados. O ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte, ressalta que há necessidade de reforçar a integração, tanto das pastas quanto das políticas já em andamento e com organizações da sociedade civil.

Com sua peculiar simplicidade, o que o faz entrar para o grupo dos políticos que se destacam pelo aparente pouco caso com o poder, ele destaca a necessidade de se combater a toda e qualquer forma de corrupção e agregar mais transparência aos processos. Ananias, que somente no ano passado coordenou um orçamento de R$ 40 bilhões, enfatiza sua preocupação: “dinheiro público é sagrado”.

Acompanhe a entrevista.

O combate às desigualdades sociais e regionais é relativamente recente no país. Qual a avaliação que o senhor faz sobre os avanços das políticas públicas nos seus seis anos de MDS?
Faço uma avaliação muito positiva, as pesquisas confirmam e a realidade também. Até poucos anos atrás tínhamos aquelas manifestações trágicas em algumas regiões no país, principalmente no Nordeste. Aquelas multidões famintas nas ruas, nas estradas. Eram criadas aquelas frentes de trabalho sem nenhum critério, sem nenhuma dimensão de política pública, sem dimensão republicana.
Isso é uma conquista histórica, nós não temos mais no Brasil os retirantes, como diz o Graciliano Ramos em Vidas Secas. Esse quadro está mudando por conta das políticas sociais que implantamos de maneira rigorosa e pela própria criação do MSD, e foi inclusive uma experiência positiva de gestão pública. Em abril do ano passado, estávamos com uma equipe de 1400 funcionários para cuidar de mais de 60 milhões de pessoas pobres em todos os municípios do Brasil. Foi uma esplêndida experiência de gestão, e também teve o lado muito importante da integração de políticas. Quando formamos o Ministério, em janeiro de 2004, ele já nasce integrando três áreas: assistência social; a segurança alimentar e nutricional, também chamado de Fome Zero; o Bolsa Família (BF) que havia sido criado em outubro de 2003 e até então era uma secretaria diretamente ligada à Presidência da República.
Houve, então, uma decisão muito clara no governo de enfrentar esse desafio. No ano passado o ministério estava com orçamento de R$ 40 bilhões, a informação que tenho é que esse ano são R$ 43 bilhões, dinheiro destinado única e exclusivamente aos pobres, aos trabalhadores de baixa renda, agricultores familiares… Há, além do MDS, recursos significativos em outras áreas, por exemplo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, com quem tivemos uma relação muito próxima; os recursos do Programa Luz para Todos, e outras áreas sociais. Outro ponto importante foi a dimensão republicana das políticas. Nós trabalhamos sempre com os governos estaduais e, sobretudo, municipais numa linha absolutamente ética, obedecendo as diretrizes do Pacto Federativo da Constituição Brasileira, ou seja, trabalhamos com governos de todos os partidos, numa linha suprapartidária, colocando o interesse coletivo, principalmente o interesse dos pobres, acima de interesses partidários.
Agora está sendo preparada a equipe que cuidará o Plano Nacional de Erradicação da Pobreza Extrema, que terá a integração de diferentes pastas e pretende chegar onde os demais programas não chegaram. Com sua experiência, quais as principais dificuldades que a presidente Dilma deverá enfrentar?
O desafio maior é manter, aperfeiçoar e ampliar os investimentos, aprimorando também, é claro, o mecanismo de aplicação desses recursos. Temos que ter clareza de que o dinheiro público é um dinheiro sagrado, ele não cai do céu. Ele vem do contribuinte, e no Brasil nós sabemos que quem paga mais impostos são os pobres e a classe média. Não temos ainda uma tributação progressiva, temos uma tributação regressiva que penaliza a classe média assalariada, os trabalhadores e os pobres. Temos que ter uma luta vigorosa e permanente contra toda forma de corrupção e desperdício do dinheiro público. Buscar transparência e eficácia, pois é importante que a pessoa saiba onde e como estão aplicados os recursos públicos e os resultados, benefícios que as famílias e as comunidades estão tendo, direta ou indiretamente. Política pública, educação, assistência social, precisam de dinheiro, então é preciso ter claro que se o país quer, se nós fizemos a opção de uma sociedade justa, que coloque as pessoas em um patamar comum de direitos, temos que fazer esse acerto de investir na área social.
Um desafio que acho fundamental é a integração das políticas sociais. Claro que cada área tem sua especificidade, tem sua história, seus registros próprios. Não se trata de diluir. A educação tem suas marcas históricas, a saúde, a assistência social, segurança alimentar e nutricional, direito a moradia, todas têm suas características, mas elas devem se comunicar cada vez mais, porque o ser humano é indivisível. É o conjunto dessas ações que vão possibilitando o desenvolvimento das potencialidades das pessoas, das famílias e das comunidades que são assistidas.
Um exemplo. Estamos de acordo que educação é um valor fundamental, uma criança na escola não aprende sem ter saúde, por outro lado, a criança não terá saúde se não tiver assegurado junto com o Bolsa Família o direito humano a alimentação adequada e se não tiver água potável. Não terá saúde psíquica, fundamental no processo de aprendizagem, se não tiver uma família que apóie, se os laços familiares, no contexto mais amplo das relações comunitárias, estão fragilizados. É necessário assistência social, pela sociedade, pelo estado, para resgatar esses valores. Se no limite esses laços estão definitivamente rompidos, é preciso espaços públicos adequados que acolham as crianças em lugares que possibilitem o desenvolvimento das potencialidades, o desenvolvimento psíquico e emocional. É um conjunto de ações que vão se interligando. Aí entra a capacitação para o trabalho, a cultura. Então o desafio fundamental é uma integração cada vez maior das políticas sociais, nos chamamos de intersetorialidade.

Mas existem outros programas de combate a desigualdade, o Territórios da Cidadania, Pronasci, Pronaf, Bolsa Família… Em sua avaliação, é possível integrar esses programas?
Em minha avaliação, à frente da prefeitura de Belo Horizonte, quando também demos uma atenção especial às políticas sociais, e depois, por mais de seis anos, implantando e consolidando o MDS, é fundamental a integração das políticas se nós queremos, de fato, construir uma sociedade justa. É assegurar antes do nascimento da criança que ela tenha toda a cobertura, acompanhamento médico durante a gestação, alimentação adequada, creche, educação infantil. Mas isso não é fácil. Tivemos um grande momento no ministério quando fizemos um grande simpósio internacional sobre desenvolvimento social, com participação de especialista de vários países do mundo.
Nessa ocasião, o Joaquim Palme, filho do ex primeiro ministro da Suécia Olof Palme, disse algo de maior importância em uma conversa informal que tivemos: “Todos querem a integração das políticas sociais, só que cada um quer sob hegemonia do seu ministério, da sua área”. Isso pode gerar insegurança. Algumas áreas têm prevalência muito forte, como a educação, fundamental em qualquer projeto. Então o risco de ter um espaço isolado é muito grande, é uma tendência natural, em um plano mais alto é uma tendência ao individualismo que nós temos. Nós sabemos que o ser humano só se realiza em sociedade, nós somos seres comunitários, mas há sempre essa tendência ao fechamento em si mesmo. Então temos que criar canais de integração, mas tem de haver também uma vontade política, da Presidência da Republica, repercutindo nos estados e municípios, para criar espaços compartilhados, de preferência com a presença da autoridade maior.
Por exemplo, a educação é fundamental, mas em um país que tem uma dívida histórica, níveis de injustiças e desigualdades sociais muito elevados, mesmo com os avanços que tivemos nos últimos anos, o acesso a escola e o acompanhamento da criança fica difícil por razões familiares. As famílias estão em um processo de desconstrução por razões socioeconômicas, alcoolismo, doenças, perdas, auto-estima… É necessária a assistência destas famílias.
Estamos consolidando os Centros de Referência de Assistência Social (CRAFS), e em um nível mais elevado, para trabalhar situações mais delicadas, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS). São equipamentos implementados nas comunidades pobres, nas comunidades que recebem o Bolsa Família, onde trabalham psicólogos e assistentes sociais para acompanhar as famílias. Essas ações integradas são fundamentais e um grande desafio ao mesmo tempo. Elas vão permitir um salto de qualidade para fazer um novo avanço e colocar as ações sociais em um novo estágio.
É uma nova fase de ações pelo fim das desigualdades ou esse deve ser um processo permanente?
É um processo permanente. Tivemos nos oito anos de governo um avanço extraordinário. Mas temos mais desafios pra continuar avançando. Vejo mais dois, um deles é a normatização jurídica dos programas. O presidente Lula chamou atenção pra isso em 2009, quando falou da consolidação das Leis Sociais. A consolidação pressupõe Leis já existentes, nós consolidamos no ponto de vista técnico e jurídico. Isso facilita o acesso, as pesquisas etc…
Temos hoje um conjunto muito significativo de Leis sobre políticas sociais, houve um avanço no sentido de colocar cada vez mais as ações sociais no campo das políticas públicas, de estado, dos direitos e dos deveres. As pessoas entram e saem do programa segundo critérios normatizados, objetivos, e não critérios subjetivos, do assistencialismo, clientelismo, do quem indica. E temos alguns programas que ainda não estão normatizados, o que carece de uma normatização maior, o caso, por exemplo, do PAA, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, vinculado ao Pronaf, que carece de normatização jurídica.
Também é preciso normatizar a própria rede de assistência social, Programa de Atenção Integral à Família (Paif), que se materializa através dos Creas que mencionei, o programa de cisternas no nordeste, os restaurantes comunitários… Esses são desafios importantes, tem que deixar de ser política de governo para ser política de estado. E sempre na linha suprapartidária com os demais entes federados. Os governos estaduais precisam definir melhor suas responsabilidades nas políticas sociais, acho que está tendo uma participação muito aquém dos entes, inclusive algumas prefeituras tem feito um esforço maior [do que os estados]. Nisso tudo, também sempre buscar a inclusão da sociedade civil.
Outro desafio é a questão das grandes cidades, a pobreza nas periferias das regiões metropolitanas. A minha experiência me mostrou e as pesquisas confirmam, que no interior, nas pequenas cidades e até mesmo nas médias cidades o impacto dos programas sociais é muito grande. Primeiro que o padrão de vida é menor, o consumo é menor, o dinheiro vale mais. Depois é também mais fácil a integração das políticas, que ocorrem quase que espontaneamente. Nas cidades maiores é mais difícil, primeiro que o dinheiro vale menos, pelos gastos, transporte coletivo, apelos do consumo. A violência e crime organizado também entram como uma das várias questões que diminuem os laços familiares, os laços comunitários. Então esse é um desafio também: como maximizar as ações das políticas públicas sociais nessas regiões.
Nesse simpósio que fizemos o presidente Lula chamou a atenção para esse desafio de combater a pobreza nas grandes cidades de pensarmos, como fizemos na área rural, em territórios de cidadania, mas para a periferia. Primeiro se configura o territórios em que se tem a presença do estado, equipamentos e agências públicas. Tem equipamentos esportivos e culturais, postos de saúde… Essas agências não falam entre si, não há sinergia, inclusive para combater a violência pública também. Além das ações instituições e movimentos, como o hip hop, que vem se contrapondo de forma muito ousada e bonita à violência, então tem que se integrar com essas grupos, essas forças, que chamamos de forças de vida, para maximizar os recursos.
Esse seria um modelo espelhado no Programa Territórios da Cidadania, voltado para área rural?
Foi criado no governo Lula voltado para a área rural, com participação do desenvolvimento agrário. Voltado para área rural, áreas de assentamento, de pequenos agricultores e agricultura familiar. O desafio é pensar no modelo semelhante para as grandes cidades. Até porque não temos ainda a força da violência, o consumismo, nas áreas rurais. Temos que pensar em um modelo semelhante, adaptado às necessidades das periferias. Até onde sei ,não avançamos nada, a não ser o Pronasci, os Cras foram integrados ao Pronasci. Mas temos que ir além no compromisso dos civis com a vida.
Mas o próprio Territórios da Cidadania é um exercício de integração, integrando os interesses dos três elos do executivo com a sociedade, que ainda está em adaptação. Já vimos casos onde a necessidade da comunidade sobre os recursos era pra um projeto imediato, enquanto município e estado traçavam outros interesses. Como integrar e unir as necessidades, que mudam de acordo com a ótica de quem necessita?
Eu sou um defensor. Não podemos perder a dimensão mais ampla, que é a dimensão nacional. A questão local é importante, o Brasil é um país muito grande, essas diferenças devem ser bem trabalhadas. Mas são diferenças que devem visar a unidade maior, que é a unidade nacional.
O Brasil é um país muito diferenciado, com características regionais, e é aí que entra o desenvolvimento regional, que é estimular as potencialidades, os recursos naturais e humanos, das vocações das regiões meso e macro do país. Há espaço para a criação de consórcios intermunicipais. Muitas vezes os municípios ficam olhando pra cima, olha pra estado, e o estado por sua vez, olha para o governo, é óbvio que essa relação deve haver também, mas é preciso ver a cooperação entre municípios, de maximizar as relações na região, pois há a presença do governo federal com os programas. Têm equipamentos e instituições Embrapa, Caixa, Bolsa Família, Pronaf, os órgãos estaduais, a presença do setor privado. Você pode criar grupos para discutir regionalmente. Além disso, alarga os espaços da democracia participativa.
Quando se fala em pobreza, a fome é o ponto crucial. Neste sentido, há quem defenda que o Bolsa Família poderia ser estendido às pessoas em situação de pobreza, sem necessidade de condicionalidades, já que as mesmas podem ser consideradas excludentes de um direito dos cidadãos. Como o senhor vê esse questionamento?
A rigor, não seria necessário a condicionalidade, porque a Constituição do Brasil já existe e assegura a escolaridade, a alimentação, os cuidados básicos com a saúde.
Agora, há outro aspecto. Quando se coloca a condicionalidade você cria uma mão dupla: ao mesmo tempo em que o Estado garante a educação, saúde, o atendimento aos recém nascidos, você fortalece também o outro lado, estimula as comunidades a reivindicarem saúde e educação de qualidade. Ao exigir, o estado também assume o dever de assegurar as famílias pobres desde a educação infantil e a creche que é um problema que temos hoje no Brasil. Quando você exige, também cria a possibilidade de ações de cooperação dentro do Ministério responsável pelo Bolsa Família com a educação, com a saúde…
Ainda sobre o Bolsa Família. Com relação ao valor, algumas pessoas defendem que o recurso repassado deveria ser reajustado, pois hoje sequer é compatível com o valor da cesta básica.
Primeiro, o BF não é um programa isolado. Ele vem apresentando resultados positivos porque não é um programa isolado. Penso que será um grave equívoco se prevalecer a posição que algumas pessoas têm de valorizar o BF em detrimento de outros programa sociais. Tem o restaurante popular, as cozinhas comunitárias, os programas de educação alimentar, o Crasf que vai acompanhando as famílias e ajudando a modelar programas de capacitação ao trabalho…
E não é um programa específico de combate à fome…
Não é, mas pesquisas mostram que a maior parte do dinheiro é gasto com alimentação. Em 2008 fizemos uma pesquisa em que 92% das crianças das famílias que recebiam BF estavam tendo três refeições por dia, e 82% dos adultos. Claro que o BF é um programa de grande impacto do Fome Zero, nós integramos o BF ao Fome Zero. Mas não é só isso, o BF também tem a dimensão de criar vínculos familiares, de empoderamento das mulheres, da auto estima familiar, o fato de ter uma conta bancária. Tem que pensar nessa dimensão que é importante. O BF está inserido em uma rede nacional de promoção e proteção social. Outro dado importante é que o programa trabalha com famílias de baixa renda, não só com indigentes, também é um complemento de renda.
Quanto mais puder aumentar o benefício, melhor. Mas eu tenho discordância com meu amigo Eduardo Suplicy que defende a renda básica de cidadania para todos, eu digo a ele que em um país com a dívida social que temos se ampliar o benefício para todos, estaremos pobres. Tem que aumentar o benefício para os mais pobres, na perspectiva da justiça social, possibilitar a quem precisa receber mais. As pesquisas mostram dados positivos Descobrimos que no Brasil as políticas sociais além da dimensão ética e humanitária, tem a dimensão prática. Um dos motivos pelo qual o Brasil enfrentou e continua enfrentando essa gravíssima crise econômica são as políticas sociais. Se somar só o MDS R$ 40 bilhões com o Pronaf, R$ 20 bilhões, são R$ 60 bilhões somente no combate à pobreza. Pobre não guarda dinheiro, consome.

Avaliando sua gestão no ministério é mais perceptível a mudança social no Nordeste, que tinha baixos índices históricos de desenvolvimento. Mas como fica o Norte? Principalmente a região Amazônica, que é tão cheia de peculiaridades e problemas, tem populações indígenas, ribeirinhos, extrativismo, desmatamento, grilagem, áreas de conservação, projetos hidrelétricos e de mineração… Com todas essas particularidades, foi possível pensar em um modelo específico para a região?
Cada região do Brasil tem uma leitura específica, dentro de uma visão mais geral. Em uma visão nacional, prevalecem as experiências regionais. Agora, o programa está muito recente, ele vai se moldando e aperfeiçoando. No caso da Amazônia houve um avanço muito grande em relação ás comunidades indígenas, em um trabalho integrado com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), como o Centro de Referencias de Assistência Social, a sua cultura, sua arquitetura, um trabalho sintonizado com as demandas e necessidades indígenas. Iniciamos também um trabalho com os quilombolas. Mas obviamente o programa apresentou resultados mais positivos porque começou lá, antes mesmo do Ministério, no governo anterior, começaram as primeiras ações de transferência de renda, de forma mais fragmentada. E o Nordeste foi a região mais atendida, primeiro por conta das demandas históricas da região.
E na Amazônia também temos, por motivos diferentes, a questão das grandes cidades, por dificuldades de alcançar as pessoas nas comunidades mais dispersas, em comunidades… Não sei como está agora, mas era um desafio que estávamos buscando alcançar.
*Publicado originalmente em Brasilianas.org .

Em busca da verdade

O autor de saga mutante vê a ditadura em "Amor e Revolução" e incomoda grupos militares. Em 200 capítulos, a novela quer abordar de 1964 à guerrilha do Araguaia. Não vai ter final feliz. Por Rosane Pavam. Foto: Lourival Ribeiro/SBT
Tiago Santiago é um escritor de novelas bem-sucedido, algo raro dentro de uma dramaturgia a cada dia anunciada decadente no Brasil. Aos 45 anos, em 2008, o autor investigou com grande repercussão, na Record, a transformação de seres urbanos em vampiros, felinos, serpentes ou lobisomens. Autor popular, talvez Santiago não tivesse escrito tal peça para ser lida nas entrelinhas, mas sua novela trash parecia irresistível a esse exercício. Em Os Mutantes: Caminhos do Coração, um homem poderia ser rejuvenescido, envelhecido, transformado ou abduzido. Perdida sua identidade, e não por culpa própria, ele buscava readquiri-la. Era um exilado de si.
E o curioso é que a ideia do exílio tenha tanto significado dentro da biografia deste autor. Sua mãe, professora pública, e o pai, corretor de valores, não gostavam da ditadura, que matou e expulsou do País um certo número de contestadores. Os pais do escritor não pegaram em armas, longe disso, mas fizeram com que o filho entendesse na democracia, inexistente em sua infância, o único caminho político para o Brasil. Isto tudo talvez tenha impulsionado Santiago a integrar, como aluno, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o IFCS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nos anos 80, início da abertura política, o estudante viu professores serem afastados por pronunciarem o mesmo sonho a ele ensinado pelos pais.
Enquanto estudava os tantos números que a sociologia exige e os aspectos da vida humana que a antropologia desenha, ele foi parar no teatro, como ator. Aos 14 anos, era o Menino, ao lado de Dina Sfat, na peça Seis Personagens à Procura de Autor, de Luigi Pirandello, novamente em torno de identidades em busca de quem as crie. Muitas experiências no teatro depois, uma bolsa de estudos no Atlantic College, do Reino Unido, e a estreia como autor na peça A Fonte da Eterna Juventude, em 1985, com direção de Domingos Oliveira, ele entendeu que desejava ser ficcionista, mais do que um analista do caos social.

Foi em 1995, então na TV Globo, que apresentou pela primeira vez o projeto para Amor e Revolução, talvez recusado apenas em razão de sua inexperiência como autor. A novela, em curso no SBT desde o último dia 5, depois que o empresário Silvio Santos pessoalmente aprovou, por e-mail, a proposta deste “Romeu e Julieta brasileiro”, como Santiago o resumiu, chega para firmar o departamento de teledramaturgia da emissora. Mas tem atingido, no horário das 22h15, uma média de audiência no ibope ainda modesta, de 5 pontos, o que equivaleria a aproximadamente 300 mil lares brasileiros nela envolvidos todo fim de noite. Quando apresentou a proposta nos anos 90, o escritor ambicionava abordar do golpe de 1964 à chamada redemocratização. Hoje, em 200 capítulos, Amor e Revolução espera chegar até o final da guerrilha do Araguaia, em meados dos anos 70. O final da história, portanto, não será feliz.
Essa ficção usa os ingredientes novelescos a que os brasileiros se acostumaram recentemente. Bem e mal lutam de forma imutável, ironicamente a contestar os seres mutantes da novela anterior de Santiago. Maria Paixão é a protagonista que, revolucionária a ponto de batizar seu cachorro de Karl, em homenagem ao ídolo Marx, sai pela noite com o bicho de estimação na bolsa, ao encontro do militar legalista José Guerra. Protagonistas de uma trama entre o sangue e o pulsar da atração, Maria e José lamentam a democracia perdida em 1964 e se beijam ao luar. O diretor Reynaldo Boury, experimentado em grandes ocorrências da telenovela, de Redenção a Ciranda de Pedra, entre inúmeros títulos, filma bem o romance, com um misto de sutileza e intensidade.
O amor, contudo, não é a tônica exclusiva desse trabalho. A novela opera em muitos núcleos ficcionais. Um deles é o do jornalista, que vacila entre a linda e tolerante chefe e a enciumada esposa, decidido a assumir a responsabilidade de dizer coisas em sua escrita. Um guerrilheiro das antigas e sua ainda bela companheira se veem perseguidos pela ditadura, enquanto o filho do ativista é torturado, em companhia da namorada, por Aranha, personagem a evocar o delegado da ditadura Sérgio Fernando Paranhos Fleury. Vivido por um calmo Jayme Periard, Aranha tem a companhia de um convincente auxiliar, com mais pathos para a representação do torturador. Sobre o personagem, interpretado por Ernando Tiago, é possível que ainda recaia (já que novela é dramaturgia aberta, submetida a interesses de audiência) a paixão por um diretor teatral. E muito curioso é o núcleo representado pelo general e por um de seus filhos, irmão do mocinho, mas obsedado pela tortura. Aqueles homens terríveis jamais tiram seu uniforme militar, nem à hora do jantar, nem no quarto de dormir.
Nessa novela, estouram-se aparelhos, homens e mulheres se veem constantemente forçados a falar no pau de arara ou mergulhados em tanques, e crianças roubadas dos ativistas são entregues ao pesadelo de viver com quem persegue seus pais. Não há uma preocupação em fazer esse suspense crescer, já que torturar e matar constituem exercício incessante dentro da novela, exibida em horário propício para maiores de 14 anos. Ao final de cada capítulo, esse bombardeio de imagens fortes vem reforçado por intensos depoimentos, como os de torturados reais, a exemplo de Rose Nogueira, que conta como, então jornalista da Folha da Tarde, viu-se sob a sanha sádica dos militares apenas um mês após ter dado à luz, e de Maria Amélia Teles, que, torturada com o marido, presenciou os próprios filhos levados à cela, intrigados por seu pai estar “verde” e sua mãe, “azul”.

A força dos depoimentos dá sentido, ou pelo menos verossimilhança, a esta trama na qual os diálogos são difíceis, como se diretamente tirados de um livro facilitado. Em entrevista a CartaCapital, o diretor Boury admite “um pouco” de dificuldade de encenar as palavras reveladoras de “muita informação histórica”. Mas ressalta que os atores interpretaram “muito bem” o “diálogo coloquial”. Os personagens, nessa novela, parecem-se antes com leitores de um texto sempre repetido, sob risco eventual de esse processo mecânico, como diz o filósofo Henri Bergson, resultar em riso.
Ainda assim, é a primeira vez que uma novela integralmente dedicada a tal período histórico vinga na televisão, algo que se deveria comemorar, pelo bem do resgate memorial brasileiro. “O assunto ditadura infelizmente não sai de pauta”, diz Santiago a CartaCapital. “Não, pelo menos, enquanto houver mortos insepultos e criminosos impunes resultantes dela.” Estranho, portanto, que o autor lhes tenha dado voz tão livre dentro de uma novela imbuída de denunciar atrocidades. O ex-coronel e ministro Jarbas Passarinho e o torturador Sebastião Curió fazem a apologia ditatorial em dois depoimentos ao final de um capítulo. “A Revolução de 64 foi um atendimento das Forças Armada (sic), do Exército, a um chamamento do povo”, diz Curió, com voz trêmula, enquanto Passarinho abre os olhos excessivamente e, exaltado, lamenta que a história tenha reputado acerto apenas em seus inimigos: “Primeiro que eu lastimo é isso, não tenhamos conseguido em 40 anos sair como quem sai de uma trincheira de combate naquele momento”. Ele lastima quem, “entregue a maniqueísmos”, diz que “essa parte da vida brasileira foi feita pelos maus”. E assevera, sôfrego em seus 91 anos: “O outro lado nunca foi criticado, nunca foi mostrado quantos crimes foram praticados, coletivos, como o atentado de Guararapes”.
Santiago diz que contatou o general Newton Cruz e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, notórios representantes da truculência ditatorial, mas eles se recusaram, como outros, a falar. E por que o escritor faria tanta questão de ouvi-los? “Penso que devo, dentro da novela, dar voz a todos”, resume Santiago, que dessa novela espera, principalmente, o pleno sucesso junto ao público. “E acontece de o depoimento do representante da ditadura aparecer enfraquecido, como o foi o de Jarbas Passarinho”, ele crê. Forçoso reconhecer que houve uma sutil tentativa, por parte da direção da novela, de interferir na gaiola de Curió e Passarinho, já que, ao fundo de seus depoimentos, um piano interpreta suavemente Caminhando e Cantando, do notório opositor Geraldo Vandré. Aliás, a opção instrumental representou um raro momento dentro da trilha sonora da novela, em que as canções soletram mensagens todo o tempo. “A música cantada era o grande mote da época. Foi um tempo de muita música de protesto”, argumenta Boury.

O fato é que, neste momento, Tiago Santiago colhe adesões de uma opinião pública a seu projeto tanto quanto, contrariamente, pipocam em direção a ele curiosas contestações. Uma delas parte de um abaixo-assinado publicado no site Portal Militar, com cerca de três centenas de assinaturas, no qual é solicitada ao Ministério Público Federal a proibição da novela. O abaixo-assinado diz que a Comissão da Verdade, “recém-criada”, estaria participando de um acordo para a exibição de Amor e Revolução. Em realidade, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias aprovou audiência pública para discutir sua criação, prevista no projeto de lei 7.376/10. Para os signatários, há ainda sinais de “um acordo, firmado com o empresário Silvio Santos, visando ao saneamento do Banco PanAmericano do próprio empresário”, oculto na decisão do SBT de exibir a novela.
Tiago Santiago acha descabida essa argumentação “militar”, já que Silvio Santos (em que pese ter veiculado, à época da ditadura, um programa no qual a rotina do presidente João Baptista Figueiredo era simpaticamente retratada) não é autor da ideia e a aprovou antes do segundo turno da eleição presidencial de 2010. Santiago quer mesmo é entreter e informar sobre o passado, prestando, com isso, uma “utilidade pública” à audiência, segundo diz. Uma democracia, acredita ele, deve punir quem cometeu crimes tão sérios, e a novela, nesse sentido, funcionaria também como campanha para o restabelecimento da verdade.
Tampouco pareceu correto ao autor o argumento do colunista da Folha de S.Paulo Fernando Barros e Silva em sua crítica publicada na edição do dia 10 do jornal. Para o jornalista da Folha, a novela “não presta como obra de ficção nem tem valia como documento histórico”, já que, eivada de “diálogos postiços”, ainda afirma que houve violência antes de 1964 e que a tortura teria sido sistemática antes da adoção do AI-5, em 1968. “Eu sugeriria a Barros e Silva que lesse o capítulo Pelas Barbas de Fidel, contido em A Ditadura Derrotada, de Elio Gaspari”, indica Santiago. “Lá se diz que em 1962, com bênção cubana, o Movimento Revolucionário Tiradentes planejava a montagem de um dispositivo militar em sete estados.” E, lembra o autor, houve vítimas sistemáticas da tortura antes de 1968, conforme denunciara Marcio Moreira Alves no livro Tortura e Torturados, publicado ainda em 1966.

Não será de boas intenções que a novela sofrerá, como se pode deduzir dos argumentos em prol da informação histórica exibidos por seu autor. Mas há em Amor e Revolução uma ausência de inovação estética que pode deixar cabisbaixo quem anseia por qualidade. Porque, ao surgir, o gênero buscava o público, mas também o experimento, segundo lembra Lauro César Muniz, objeto do livro Lauro César Muniz Solta o Verbo, de Hersch W. Basbaum. Em entrevista a CartaCapital, o dramaturgo responsável por clássicos como O Santo Milagroso, Direita, Volver!, Carinhoso, O Casarão e Poder Paralelo comenta com bom humor a batalha que tomou para si. “Briguei pela qualidade, que caiu enormemente nesses últimos dez anos, e concluí que, agora, seria o momento de não me repetir, apresentando propostas concretas para melhorá-la”, ele se ri. “Quando proponho lutar pela redução do número de capítulos, de 200 para 100, por exemplo, digo que, sob esse formato, conta-se melhor uma história, com menos risco de ‘barriga’, que é como chamamos a interrupção repentina do interesse do público, especialmente quando o drama se estica sem necessidade.”
Para Lauro César Muniz, a narrativa geralmente enfraquece quando o texto é composto por muitos autores impedidos de expor a própria história. Um bom novelista, ele crê, saberá encontrar a verdade que há na existência e levá-la à televisão, se liberdade tiver. Hoje na Record, Muniz deseja trazer da tevê por assinatura os escritores talentosos. Em sua maioria jovens, eles saberiam compor narrativas de credibilidade, eivadas de diálogos instigantes como os dos bons seriados norte-americanos atuais. Talvez este seja um mal de que sofra Amor e Revolução, bem intencionada, mas impessoal, fiel ao propósito histórico mas desinteressada do sopro da irreverência, exceto, é claro, quando coloca a espantosa realidade dos torturados depoentes em cena.

sábado, 23 de abril de 2011


21 de Abril de 2011 - 21:54
A frase é de Gisele Buchen, esposa do médido Fernando Buchen
Jornal Metas
Jornal MetasJornal Metas / Foto: N/A
Os últimos 21dias tem sido de angústia para Gisele Buchen, 28 anos e há dez casada com o médico Fernando César Buchen, acusado e preso preventivamente no Presídio Regional de Blumenau por atentado violento ao pudor. Durante quase duas semanas, o Jornal Metas manteve contato telefônico com Gisele para essa entrevista. Num primeiro momento, ela hesitou, achou que poderia comprometer a defesa do seu marido, porém diante dos comentários e das notícias veiculadas na mídia, que ela diz serem muitas inverdades, Gisele decidiu contar quem é o médico, esposo e pai Fernando Buchen que na próxima quarta-feira completa 37 anos de idade. Nesta entrevista exclusiva ao coordenador de Redação do Jornal Metas, Alexandre Melo, Gisele afirma que o seu marido é inocente e que a verdade, mais cedo ou mais tarde será revelada.

Jornal Metas - Diante de um fato grave e de tamanha repercusão, envolvendo o seu marido, você teve muita coragem em se expor. Por que a decisão de falar?
Gisele - Sim, é difícil falar sobre esse assunto. Eu, minha filha, minha família e a do Fernando estão sofrendo muito com toda essa situação. Eu resolvi falar porque tem saído muita mentira sobre o Fernando em rádios, televisões e jornais. Ele merece que eu venha a público para defendê-lo.

Jornal Metas: Qual foi a sua primeira reação quando soube que o seu marido havia sido preso?
Gisele: Desespero. Porque a gente estava preparando a festa de aniversário de seis anos da nossa filha, que seria no sábado (2 de abril). Eu e o Fernando estávamos muito felizes com este momento. Quando ele me telefonou da delegacia e deu a notícia que havia sido preso, parece que me tiraram o chão. É até difícil explicar, mas foi uma sensação de desespero e de muita tristeza.

Jornal Metas: Quem é o Fernando médico e pai que você conheceu há dez anos?
Gisele: O Fernando médico é um excelente profissional, muito responsável, sempre preocupado quando a gente saía para ir a alguma festa. Ele não desgrudava do celular, sempre preocupado que pudessem chamá-lo para uma emergência no hospital. Evitava até consumir bebida alcoolica nestes eventos. Sempre que o chamavam ele estava pronto para atender, em qualquer horário. O Fernando sempre foi muito atencioso com todos, fosse homem, mulher ou criança. Sempre ouvi clientes e amigos falarem muito bem dele e elogiarem a sua conduta profissional. É um maravilhoso pai. A minha filha e ele sempre foram muito grudados. Toda a quinta-feira ele a leva ao jogo de futebol com os amigos. Isto era uma rotina que ela adora.

Jornal Metas: É difícil acreditar que isto está acontecendo?
Gisele: Muito difícil...muito difícil. É impossível acreditar. Na verdade, eu não acredito que o Fernando tenha cometido este crime. Eu conheço o Fernando não há um dia ou há dois dias, eu o conheço há dez anos. Por isso eu acredito na sua inocência.
Jornal Metas: Você também vivia a rotina do consultório, estava lá quase todos os dias. Por isso é mais difícil acreditar que o seu marido seja culpado?
Gisele: Eu trabalho no consultório (de Gaspar) como uma espécie de secretária. Atendo telefone, marco consultas e faço serviços de banco. Quando eu tenho tempo, eu fico lá para ajudar, até porque não trabalho e vejo que precisaria de mais uma secretária. Eu tenho disponibilidade de tempo, portanto não me custa nada ajudá-lo e aos outros médicos que atendem no mesmo local.

Jornal Metas: Então,, você está sempre muito próximo do dia a dia do seu marido?
Gisele: Sim. Ele nunca sabia quando eu ia ao consultório. As vezes, ele abria a porta do consultório e me via lá na recepção atendendo os pacientes.

Jornal Metas: Você lembra da frase que disse ao seu marido quando o encontrou pela primeira vez depois da prisão?
Gisele: Eu o encontrei pela primeira vez no hospital (Buchen atentou contra a própria vida em uma cela do presídio de Blumenau e foi transferido para o hospital). Eu disse que o amava muito e que estava ali porque acreditava na sua inocência. E que toda a minha família e a dele também acreditavam.

Jornal Metas: E qual foi a redação do Fernando?
Gisele: Ele me pediu perdão por uma coisa que não cometeu. Ele estava muito envergonhado por fazer a família passar por isso, mas sempre repete que é inocente.

Jornal Metas: Desde quando surgiu o primeiro processo, em 2007?
Gisele: Sim. Em 2007, nós sentamos e conversamos sobre as acusações. Ele me contou tudo o que estava acontecendo sobre o processo. Eu disse a ele que o apoiava em tudo e que estaria sempre ao seu lado. E vou continuar lutando contra esses processos até provar a inocência do Fernando.

Jornal Metas: Vocês têm uma filha de cinco anos. Foi uma decisão difícil contar a ela que o pai havia sido preso. Como foi a reação da menina e como está sendo a vida sem o pai em casa?
Gisele: Na verdade, ela agora tem seis anos. Lá em casa a gente nunca mentiu. Somos uma família que quando tem um problema, senta e conversa. Sentei com a minha filha e contei a ela que o papai havia sido preso, depois contei que o papai estava no hospital. Contei tudo o que estava acontecendo, não escondi nada. Ela é criança, mas não é burra e iria perceber logo que o clima em casa não estava legal. Ela iria ver o pai na televisão e no jornal. Ela perceberia logo que havia um problema na família. E se eu não contasse a verdade, qual seria a minha relação com ela? Eu tenho que passar confiança para a minha filha. Eu ficaria muito preocupada, se ela soubesse por outras pessoas o que havia acontecido com o pai ..

Jornal Metas: Você continua morando na mesma casa? Como tem sido a rotina nos últimos 22 dias?
Gisele: A gente tem a nossa casa e vou continuar morando nela, mas por enquanto estou na casa dos meus pais, porque eu não tenho mais horário fixo para chegar em casa. E a minha filha, neste momento precisa do carinho de toda a família, mãe, avós e tios. Eu saio, pela manhã, para resolver assuntos com os advogados e do consultório. Além disso, sempre que podia eu ia ver o Fernando no hospital, dar o meu apoio a ele. A minha rotina está sendo essa. Saio de casa às 7 horas da manhã, volto ao meio-dia para levar a minha filha para a escola e saio novamente à tarde para resolver todas estas coisas.

Jornal Metas: Além da prisão, outro momento difícil para você foi quando o Fernando atentou contra a própria vida. Ele, inclusive, deixou uma carta, que a imprensa não teve acesso, mas se sabe que era uma carta de despedida. Qual foi a sua reação naquele momento?
Gisele: Esta carta fala de amor, ele disse que me amava muito e que também amava muito a nossa filha, pediu para que eu vendesse a nossa casa e fosse viver a minha vida (pausa). Pediu desculpas ao meu pai por tê-lo feito passar por tudo isso, falou que amava a minha mãe e ao meu pai, que eram com seu fossem também pais dele, dos meus irmãos, dos irmãos e dos pais dele. Essa carta não tem nada de confissão. Em nenhum momento ele mencionou as acusações e os processos. Ele reafirma na carta que é inocente e que só fez os procedimentos médicos corretos. Até por isso, essa carta não deveria estar com o delegado, pois não se trata de uma confissão.

Jornal Metas: Você disse que vivia a rotina do consultório. Alguma vez você acompanhou o seu marido fazendo exames em pacientes?
Gisele: Eu acompanhei uma única vez, quando a minha mãe foi ao consultório, mas não porque eu precisasse estar lá. A gente ficou conversando enquanto ele fazia o exame. Apalpou a virilha dela, pois é onde passam os nervos. É um procedimento médico normal para um especialista em ortopedia. Por exemplo, se a pessoa cai sentada, onde se vai examiná-la? Lógico que será preciso apalpar as nádegas.

Jornal Metas: Como está o estado emocional do seu marido, já que ele retornou para o presídio na terça-feira (19). Você já o visitou?
Gisele: Não. Desde que ele foi levado de volta para o presídio, eu não tive mais contato. A minha primeira visita será no domingo (23). O que eu soube dos nossos advogados é que ele continua muito abalado emocionalmente. Por vezes, ele perde a noção do tempo, pois o choque emocional foi grande. Tirar um homem da família, do trabalho, dos amigos e colocar dentro de uma cela sem notícia do que acontece lá fora é muito complicado. Foi um choque muito grande. As vezes ele pergunta: “você pegou o carro na garagem”? Eu respondo: “Fernando, o carro está lá em casa há mais de duas semanas". Ele faz algumas perguntas, como se estivesse voltando no tempo.

Jornal Metas: O caso é de grande repercusão em Gaspar e região. Nestes 20 dias você já precisou enfrentar alguma situação desagradável de pessoas acusando seu marido? Qual foi a sua reação? Gisele: Uma vez eu estava sentada na recepção do hospital, aguardando para ver se teria a autorização para vê-lo. Umas moças, ao meu lado, estavam comentando o assunto. Elas não me conheciam e não conheciam o Fernando. Elas começaram a comentar sobre o que leram nos jornais. E uma delas disse: “poxa, mas um médico fazer uma coisa dessas”. Eu olhei para ela e disse: “eu sou a esposa desse médico”. E comecei a contar para elas a nossa versão. Elas se convenceram. Todas as pessoas que a gente conta a versão dos fatos, acabam entendendo que o Fernando é inocente. E até preciso agradecer muito aos pacientes que ligam diariamente para o consultório se oferecendo para testemunhar a favor do Fernando, aos amigos que ligam dando apoio, aos amigos de Curitiba (Fernando nasceu, estudou e se formou em Curitiba), professores de faculdade que estão prontos para testemunhar a favor do Fernando. Andaram dizendo que foi a nossa família que teve a ideia do abaixo-assinado. Não é verdade. A iniciativa foi dos pacientes, porque eles ligavam lá para clínica querendo deixar o nome e cpf para testemunhar a favor do Fernando. A gente anotava, mas já tinha mais de 20 pessoas. Não é abaixo-assinado para tirar o Fernando do presídio, mas para testemunhar a favor. É lógico que o juiz não vai querer ouvir a todos, mas essas pessoas querem dar a sua contribuição.

Jornal Metas: Você acredita que a opinião pública acredita muito mais na inocência do Dr. Fernando do que na culpa?
Gisele: Sim. Porque o Fernando atendia a muito gente, e só tem oito o acusando. O abaixo-assinado já tem mais de 500 assinaturas. São todos pacientes do Fernando. O Fernando faz 10 mil atendimentos por ano, entre estes atendimentos, é claro, tem os retornos, mas são 10 mil atendimentos por ano. É um número bem considerável.
Jornal Metas: Você acredita na inocência do seu marido?
Gisele: Sim. Por que ele sempre foi uma pessoa muita justa e honesta. Ele nunca deixou a desejar no trabalho nem em casa. Ele sempre foi muito responsável e tem amor à profissão que escolheu. Ele não iria cometer um delito desses, colocando a profissão e anos de estudo na lata do lixo. Ele é apaixonado pelo que faz e pela família. Eu acredito na inocência dele.

Jornal Metas: E na Justiça? Você acredita?
Gisele: Acredito, mas acredito mais em Deus. Deus está do nosso lado, nos apoiando. Uma hora a verdade vai aparecer. Elas (vítimas) devem ter confundido o exame com algo a mais, porque ele sempre foi muito atencioso com os pacientes. Eu queria pedir a essas mulheres que consultem um outro ortopedista e perguntem como é o exame, porque muito médico olha e, para não se complicar, receita um remédio e pede para o paciente voltar em 30 dias. O Fernando, ao contrário, gosta de examinar, tocar o paciente para saber onde está a dor e receitar a medicação correta.

Jornal Metas: Se você ficasse frente a frente com as mulheres que acusam o seu marido, o que você diria a elas?
Gisele: Hoje é muito difícil responder a essa pergunta. Eu diria para elas que pensassem mais antes de tomar qualquer decisão, porque o que elas falaram não destruiu uma família, mas abalou. Tenho a certeza que vamos reerguer a nossa família. Eu confio muito em Deus. Vamos conseguir reconstruir a credibilidade do Fernando. Volto a pedir a essas mulheres que consultem um outro médico para saber se não estão confundindo o exame, antes de cometerem uma injustiça.

Jornal Metas: Qual o seu sentimento em relação a essas mulheres que acusam o seu marido?
Gisele: Eu não sei qual é meu sentimento agora. Não quero encontrá-las, pois acho que neste momento uma conversa não vai resolver, mas talvez mais para frente a gente possa sentar e conversar numa boa.

Jornal Metas: Amanhã é Páscoa. Como vai ser a família passar o dia longe do Fernando?
Gisele: Triste. A Páscoa era um momento muito especial para a nossa família. Pela manhã, a gente sempre passava a Páscoa na casa dos meus pais e à tarde na casa do meu sogro, ou ao contrário. Pensar que o Fernando está lá na cadeia sem um abraço, sem um carinho nosso dói muito. Somos muitos unidos. Neste domingo eu vou estar lá com ele, porque é dia de visitas, só que não posso levar a nossa filha. Ela não merece estar longe do pai, mas nessa Páscoa vai estar.

Jornal Metas: Alguma mensagem final?
Gisele: Eu gostaria de pedir que não julguem o meu marido sem que antes se esclareceram todos os fatos. Julgar cabe à Justiça. E vamos conseguir provar a sua inocência. Agora, não posso falar muito sobre o processo porque está correndo em segredo justiça. Tudo o que eu disser pode prejudicar o processo. Quero agradecer a todos que estão dando apoio e telefonando para a gente (emociona-se), a todos que estão de coração com a nossa família. Muito obrigado.       

quinta-feira, 21 de abril de 2011


Marcos Coimbra: O voto de desconfiança

por Marcos Coimbra, em CartaCapital
Entre as várias coisas que não constam do anteprojeto de reforma política elaborado pela Comissão Especial do Senado, uma das mais interessantes é o voto de desconfiança do eleitor. Se fosse proposto, em um gesto improvável de ousadia de seus ilustres membros, seria recebido com palmas pelo público.
Não por acaso, sequer há, em português, expressão equivalente ao que em inglês é chamado recall vote. Ela não existe em nosso vocabulário político, tão estranha a nossos costumes é a ideia. Mas é uma instituição simples, que a população brasileira aprenderia rapidamente a usar. Ela é, enfim, coerente com práticas cada vez mais comuns nas relações de mercado. Quem não ouviu falar no recall de algum produto? São automóveis, aparelhos eletrônicos, utilidades domésticas, que a toda hora têm de voltar para as fábricas, para reparo ou troca de peças. Até remédios já foram objeto de recall.
Em todos os casos, são produtos suspeitos, cujo uso poderia prejudicar alguém ou colocar o consumidor em risco. Já pensou o que aconteceria se um carro defeituoso perdesse os freios e saísse por aí matando pessoas? Melhor chamar os proprietários à oficina para corrigir o problema.
Por que não ter algo parecido para nos proteger dos maus políticos? Governantes incompetentes, deputados corruptos, senadores venais, causam muito mais mal ao País do que liquidificadores barulhentos. Por que não devolvê-los e pedir a restituição do mandato?
É preciso não confundir o voto popular de desconfiança (ou recall eleitoral) com algo que a população brasileira conhece bem, pois aconteceu há pouco tempo. Impeachment é diferente.
A Constituição estabelece essa possibilidade nos casos em que os mandatários infringem a lei. Para que um presidente, por exemplo, seja removido por impeachment, é necessário que se prove que cometeu um crime de responsabilidade. No recall, não é preciso crime algum. Basta que um determinado número de pessoas o proponha, entendendo que o eleito não faz o que se esperava dele ou que contraria o que prometera em campanha. Se a maioria do eleitorado estiver de acordo, tudo fica resolvido: sai um, entra outro.
Não são muitos os países que adotam esse tipo de referendo. E neles os casos de maus políticos removidos dessa forma são raros. O que sugere que talvez nossas elites não precisem ter muito medo de adotá-lo, pois é possível controlar seu uso indiscriminado e desestabilizador.
Os Estados Unidos são o país onde a instituição é mais tradicional e mais integrada à cultura política. Volta e meia, moções para o recall de alguém são apresentadas, na maior parte das vezes contra ocupantes de cargos no Executivo, quase sempre prefeitos. Mas, nos últimos 30 anos, apenas em 15 oportunidades o processo terminou com a perda de um mandato.
O caso mais famoso aconteceu na Califórnia, em 2003. O governador do maior estado americano, Gray Davis, teve de se submeter a um voto popular de desconfiança, perdeu e foi obrigado a sair. Aliás, foi nessa eleição de recall que um ex-exterminador do futuro resolveu se lançar candidato (aproveitando-se do desgaste dos “políticos tradicionais”). Arnold Schwarzenegger venceu e começou sua carreira.
Lembremos as circunstâncias daquela eleição: Davis havia sido reeleito no ano anterior, mas enfrentava com enorme incompetência a crise de energia que, desde 2001, paralisava a economia regional e enfurecia as pessoas. Pelas leis estaduais, a moção para realizá-la precisava do apoio de 12% dos eleitores, conseguido em até 160 dias. Quase 50% a mais das assinaturas necessárias foram coletadas. A eleição foi feita e a perda do mandato aprovada por 55% dos votos.
Quantos políticos brasileiros teriam sido mandados para casa se tivéssemos algo semelhante? Não estava em questão se Davis havia cometido algum crime. Ele era, apenas, um governador que administrava o estado de forma equivocada, revelando-se incapaz de responder a um apagão (será que ele se parece com algum político brasileiro?). Temendo o prejuízo de aguentá-lo por mais três anos, a maioria preferiu acabar logo com o sofrimento.
Em casos parecidos (e em outros, nos quais as pessoas suspeitam que um político é mais do que incompetente), o voto popular de desconfiança poderia ter efeitos salutares no Brasil. Talvez fosse usado de maneira tão parcimoniosa quanto nos Estados Unidos. Mas traria dois benefícios: diminuiria a sensação de onipotência tão comum no meio político e aumentaria a percepção da importância do cidadão na política. Duas coisas que ajudam a consolidar a democracia.
Esse é apenas um exemplo de instituição que não temos e poderíamos ter. Existem várias outras, testadas e aprovadas em diversos países. Pena é que a reforma política que estamos fazendo seja tão acanhada e conservadora. Era hora de inovar.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.
Isso mandei para o Jornal Cruzeiro do Vale e Metas...


Isso que escrevo é pra refletir....
Gostaria de perguntar a todos que condenam o DR Fernando.
Vocês sabem quais são os procedimentos médicos que um ortopedista pode adotar em uma consulta clinica?
Sou paciente também do DR Fernando...e até que o caso seja devidamente julgada, será para mim o Doutor Fernando sim.
Não apenas eu, mas meu marido e minha filha também os são.
Meu respeito para  com o Doutor continua o mesmo, porque eu e minha família sempre fomos respeitados como pacientes.E não costumo condenar antes do julgamento.
Também não quero acusar as pacientes que o denunciaram...porque talvez até seja por ignorância dos tais procedimentos...Apesar de não saber o que tem nestes depoimentos e analisando o que a paciente disse na entrevista do Santa é que chego a esta conclusão.
Quem sabe ao invés de estarem condenando tão veemente pudessem
dar uma pesquisada por exemplo que procedimentos clínicos o médico deva proceder em caso de uma possível fratura no coques ?(exemplo)
Acredito sim que Doutor Fernando deva responder pelos seus atos. Mas, o que me deixa indignada é a forma desumana com que foi tratado e condenado por muitos sem saber o que tais vítimas disseram em seus depoimentos.
Caso de estupro como noticiou o jornal?
Atentado violento ao pudor?
Alguém, aqui comentou que o doutor pode ter um distúrbio de comportamento, ser um bom medico , e as vezes surtar é isso?
Bom seria fazer uma pesquisa sobre como agem esses médicos ...
Possuem consultório sozinhos.
Ataques acontecem geralmente sem que aja  pessoas na espera...
Todas as características dos casos que pesquisei em nenhuma se enquadra Doutor Fernando.
Outra coisa que ninguém analisa, por que as acusações só começaram a partir de 2008, depois que Doutor Fernando assumiu a direção clinica do Hospital de Gaspar ?
Ele não era médico antes disso?
Agora que falar especialmente as mulheres que o denunciaram ,porque tenho certeza que vocês  estão sempre lendo os comentários aqui feitos.
Espero sinceramente que vocês tenham consciência do que fizeram...É a vida de uma pessoa que está sendo julgada por todos.Condenado antecipadamente por muitos ...
Espero que vocês possam dormir tranqüilas e passar uma páscoa sabendo que o que fizeram foi um ato extremamente de exercício de cidadania,  protegendo as de mais mulheres...
Que tenham noção que acusar é fácil, perante aos homens, mas a Deus não...
Se , são tementes a Deus certamente  responderão pelos seus atos...
E, também a lei dos homens, porque pelo que saiba existe uma acusação e ainda nenhuma defesa perante a lei.
Que diante do juiz e do doutor Fernando vocês possam dizer tudo o que disseram nos depoimentos olhando nos olhos do Doutor.
Por tudo que tenho visto, lido até o momento, tenho quase certeza (deixo uma duvida , porque também posso errar) que a vítima disso tudo seja tão somente o Doutor Fernando.
Só quem foi julgado injustamente sabe a dor que isso nos causa..
Vamos pensar sobre isso nessa páscoa, enquanto comemoramos a ressurreição  de Jesus que também foi condenado injustamente.

Professora Marili.



Stedile detona o Otavinho, o Aldo, a Kátia…

Turma do agronegócio só pensa na conta bancária, diz Stedile
ELEONORA DE LUCENA, na Folha de S. Paulo

DE SÃO PAULO

Há exatos 15 anos ocorria o massacre de Eldorado do Carajás. Dezenove integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foram mortos pela polícia do Pará durante uma manifestação contra os atrasos na reforma agrária.
Nesta entrevista, João Pedro Stedile, um dos coordenadores do MST, relembra o episódio, nega enfraquecimento do grupo e ataca ruralistas e a mídia.
Para ele, a redução no número de famílias acampadas é resultado da lentidão da reforma, não do Bolsa Família. “Nossa burguesia agrária é lúmpen. Quer ganhar dinheiro sempre mamando nas tetas do Estado.”

Stedile, 57, faz um balanço do movimento, dos problemas da reforma agrária e da agricultura. Condena o uso de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas — produtos presentes em alguns assentamentos. Fala sobre a disputa política dentro do governo Dilma, no Incra e no debate sobre mudanças no código florestal.

Folha – Neste momento, o MST promove uma série de manifestações e eventos para lembrar o massacre de Eldorado do Carajás, de 17 de abril de 1996. O que mudou de lá para cá no movimento, na estrutura agrária, na repressão ao movimento, na sua imagem pública?

João Pedro Stedile – Durante o governo FHC, as oligarquias se sentiram impunes e fortalecidas com a hegemonia completa das ideias neoliberais. Então, provocaram diversos massacres para impor sua visão de mundo e tentar impedir a organização dos pobres com a repressão bruta. No campo, foram Corumbiara e Carajás, além de outros na cidade.
O padrão de violência física no campo diminuiu. Não há mais tantos assassinatos, mas cresceu no ano passado. As forças policiais também estão em menor número a serviço do latifúndio, pois temos mais governos estaduais progressistas. Lamento que ainda tenhamos alguns governadores que não aprenderam que PM não é para resolver conflito social.
Temos a situação de que, infelizmente, nenhum dos culpados do Massacre de Carajás tenha sido punido. Esperamos que o STF julgue logo o recurso e coloque os comandantes do massacre na cadeia.
Lutar na semana de 17 de abril é uma necessidade para avançar a reforma agrária. É uma obrigação legal, já que, envergonhado, o presidente FHC, antes de sair, assinou um decreto definindo essa data como dia nacional de luta pela reforma agrária. Nós continuaremos fazendo nossa parte, organizando os pobres do campo para que tenham consciência de seus direitos e lutem para ter acesso a terra.

Depois de um período de grandes marchas e ocupações de terras, nos anos 1990, o MST parece viver um outro momento. O MST está decadente?

A grande imprensa e os latifundiários é que gostariam que o movimento estivesse decadente. Nos últimos dois governos FHC e Lula, mantivemos a mesma média anual de 280 ocupações por ano. O MST continua forte, sendo um dos principais movimentos sociais da América Latina, com unidade e iniciativas em diversas áreas. O que pode mudar, num e noutro Estado e região, são as formas de luta. Durante o governo Lula, fizemos duas grandes marchas a Brasília para pressionar a reforma agrária.

O Bolsa Família e a ascensão social de uma parcela da população pobre esvaziam o movimento?

Não. Existem no Brasil ao redor de 4 milhões de famílias de trabalhadores na agricultura, que são pobres e não têm terra. Nossa obrigação social é organizá-los para que lutem. Na região Nordeste, onde tem mais Bolsa Família, é onde o MST tem mais acampados. O que diminuiu o número de famílias acampadas foi a lentidão do governo em realizar a reforma agrária. Se as pessoas não veem expectativa de sair logo a terra, têm mais dificuldade de ir acampar. No entanto, continuam querendo a terra.
O sr. fez várias críticas ao governo Lula, que se classificava como de esquerda. Disse que ele pouco fez pela reforma agrária. Qual sua explicação?
O governo Lula foi um governo de composição política e de classes. Infelizmente, os setores do agronegócio tiveram muita força política no governo. Por outro lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário se preocupou com um milhão de famílias de camponeses com terra, que acessam ao Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar].
O governo não conseguiu fazer com que Incra se transformasse em órgão para cuidar efetivamente das demandas da reforma agrária. A política de reforma agrária ficou sendo um ação periférica dentro do governo, sem peso político.
A maior parte das 4 milhões de famílias sem terra, e os 3,8 milhões de famílias que tem menos de dez hectares não acessaram políticas públicas agrícolas que pudessem aumentar a renda e se desenvolverem durante o governo Lula.
Houve avanços com o programa “Luz para Todos” e no programa de aquisição de alimentos da Conab, além de algumas iniciativas na área da educação. Em resumo, o governo Lula não priorizou a reforma agrária.

Qual sua expectativa em relação ao governo Dilma Rousseff? Ela vai atender as demandas do movimento? A reforma agrária será acelerada?

Nós acreditamos que governo Dilma pode melhorar em alguns aspectos. Até porque pior do que está seria difícil. Pior seria apenas com [José] Serra [candidato derrotado à Presidência] e os tucanos.
Gostamos que a presidenta colocou como prioridade de seu governo a superação da pobreza. No campo, para tirar os milhões de pobres da pobreza, precisa distribuir terras e organizar programas de universalização da educação no campo, programas de desenvolvimento dos assentamentos com agroindústria, crédito e reflorestamento.
Em relação aos governos Lula e FHC como o sr. qualifica a presidente? À esquerda de Lula? À direita? E em relação a FHC?
O governo FHC foi um governo neoliberal privatista totalmente subordinado aos interesses do grande capital e dos Estados Unidos. Uma vergonha. O governo Lula mudou a política de neoliberalismo de FHC, com uma outra visão do papel do Estado. Mas ainda é um governo de transição, de composição política, com forte aliança com o grande capital.
Espero que o governo Dilma avance mais. Apesar de também ser um governo de composição de classes, esperamos que a presidenta possa realizar um programa que de fato represente um novo projeto de desenvolvimento para o país, baseado na distribuição verdadeira de riqueza e de renda.
Ela não pode ser apenas o continuísmo do Lula, porque precisa ser melhor. Pois os problemas da pobreza não se resolvem apenas com medidas paliativas. Precisa ter mudanças estruturais na reforma agrária, na universalização do acesso à educação, superação do analfabetismo, no investimento produtivo que gere milhões de emprego com renda, democratização dos meios de comunicação e na valorização do salário mínimo e na redução da jornada de trabalho.
Os adversários da reforma agrária alegam que a produtividade das grandes propriedades, do agronegócio, é tão maior que derruba os argumentos pela divisão de terras. O Brasil, segundo eles, teria sua produção agrícola reduzida se fosse feita a reforma agrária. Como o sr. rebate esse ponto de vista?
A visão dos capitalistas e grandes proprietários de terra é a de que a produção agrícola é apenas para gerar lucros. Não se preocupam com distribuição de renda, de terra, com produção de alimentos saudáveis. Nem com o futuro do país. Para os seus objetivos, a agricultura está indo bem. Ou seja, aumentam a produção, a produtividade e seus lucros.
No entanto, a agricultura deve ser vista como um bem da natureza a serviço de toda a sociedade, para produzir, em equilíbrio com ambiente, alimentos saudáveis para toda população, em primeiro lugar. Gerar trabalho e emprego para todos que quiserem morar no campo.
No projeto deles, eles vão bem, expulsando todo mundo para cidade.
Portanto, precisamos pensar uma nova política agrária, que garanta terra a todos que quiserem permanecer no campo e condições de produção, priorizando o mercado interno e alimentos saudáveis. É preciso ter claro também que campo não é só lugar de produzir, mas também de se viver bem.
Há espaço para uma reforma agrária no Brasil de hoje? Os mesmos adversários dizem ainda que o tempo de fazer a reforma agrária passou. Que não se deve repetir experiências de outros países nos séculos 19 e 20, quando várias reformas foram deslanchadas no mundo. Que o Brasil hoje é urbano e que não há trabalhadores com histórico na agricultura. Como um pequeno agricultor pode competir com o grande? Qual é o seu argumento nesses pontos?
A reforma agrária clássica de apenas distribuir terra, feita pelas burguesias industriais em quase todos países desenvolvidos, não pode ser feita no Brasil. A burguesia não quis e priorizou um modelo industrial totalmente dependente do exterior, em vez de ser baseado no mercado interno. Quando o governo Goulart quis fazer foi derrubado.
Temos 16 milhões de trabalhadores agrícolas no Brasil. Há o problema do êxodo rural, do baixo poder aquisitivo do mercado interno de alimentos e do controle da economia agrícola pelas empresas transnacionais.
Defendemos uma reforma agrária de novo tipo, que combine acesso à terra com implantação de agroindústrias, com universalização da escola e técnicas agrícolas, que respeitem o ambiente para produzir alimentos sadios.
A turma do agronegócio só pensa na sua conta bancária. O modelo deles é o do capitalismo americano, sem gente e sem floresta. Lá a população carcerária é maior do que a população rural. O Brasil precisa de um novo modelo agrícola. Se esse é o modelo americano ideal, por que não se mudam pra lá?
Nos anos de governo do PT foram feitas várias críticas em relação ao financiamento do MST. O movimento depende do governo? Há ainda os que afirmam que essa alegada dependência financeira domestica do movimento, fazendo dele uma linha auxiliar do governo. O sr. concorda com essa análise? O PT enquadrou, domou os movimentos sociais?
O governo FHC acabou com os serviços públicos agrícolas, terceirizou ONGs e empresas, na assistência técnica, na construção de casas, nas escolas. Portanto, os assentamentos do MST, assim como todos os outros, para acessar recursos públicos tiveram que fundar ONGs para ter direito a casa, assistência técnica etc.
A direita e sua imprensa marrom ficaram repetindo que o MST vive de recursos públicos. Nós defendemos que os serviços públicos agrícolas devem ser uma tarefa do Estado, com a construção de novos instrumentos para cuidar da assistência técnica e outras políticas públicas.
A Conab deve ser uma grande empresa pública, que não devia ficar a reboque da distribuição de cargos entre os partidos.
Você, de sã consciência, consegue imaginar uma ocupação paga por alguém? Ora, os trabalhadores lutam por acreditar na reforma agrária. Sabem que precisam lutar com suas próprias forças. Sem isso, não são ninguém.
Portanto, essa cantilena é apenas uma tática de propaganda dos grandes proprietários e seus servidores na imprensa, que são contra os trabalhadores e a reforma agrária e querem criminalizar e desmoralizar o MST.
Alguns observadores afirmam que o MST perdeu apoio das classes médias e urbanas em razão de invasões violentas, destruição de patrimônio. É certa essa visão? Houve excesso de violência nas ações do MST? Por que o movimento perdeu apoio?
O MST não perdeu apoio. O apoio do MST é fundamentalmente dos pobres, dos trabalhadores da cidade. A classe media, além de pequena, é volúvel e influenciada pelo que sai na imprensa.
A imprensa, sim, mudou. Antigamente, tinha uma postura mais informativa, mas nos últimos anos assumiu uma postura ideológica de defesa a qualquer custo da propriedade da terra e dos interesses mais conservadores.
Até porque a maioria dos donos de jornais e televisão também são grandes proprietários de terra ou têm no agronegócio seus principais anunciantes. Imagine quantos telefonemas a Coca-Cola e Cutrale precisaram dar para a Globo se insurgir daquela maneira contra nós, sendo que a terra invadida pela Cutrale é publica, registrada em cartório como sendo da União. A Cutrale é a grileira, mas quiseram nos colocar como vilões.
O MST é contra o uso da violência. Nós exercitamos pressão social. Acontece que a burguesia considera violência quando ocupamos uma terra improdutiva ou grilada. Quando ocupamos um prédio publico, incompetente, que usa dinheiro publico sem estar a serviço do povo.
Mas quando a Kátia Abreu grila uma área pública no Estado de Tocantins, expulsa posseiros, aí se calam, omitem e ignoram. Ninguém da imprensa burguesa deu, só a “Carta Capital”. Ela expulsar agricultores não é violência?
Quais são os êxitos do movimento depois de 30 anos de existência?
Nosso maior êxito é a melhoria das condições de vida de milhões de brasileiro, que têm consciência critica sobre os problemas da nossa sociedade.
Mais: ter sobrevivido a tantos ataques e à repressão. Só por isso já somos vitoriosos. Nenhum outro movimento social havia sobrevivido no campo mais de dez anos na história do Brasil.
Nós recuperamos a dignidade dos pobres do campo. Ajudamos a se organizarem para se transformarem em cidadãos plenos. Temos militantes que entraram com a quarta série no MST e hoje estão fazendo mestrado. No plano da burguesia, eles seriam apenas mais uns boias-frias para colher cana em São Paulo.
Temos escolas de agroecologia, produzimos conhecimento, estamos organizando agroindústrias cooperativas. Estamos superando o analfabetismo em todas as áreas de assentamento.
Nos nossos assentamentos, as famílias podem ser pobres ainda. Mas todos têm casa, trabalham, estão com todos os filhos na escola e têm consciência de sua vida na sociedade.
Quais foram os erros nessa trajetória? O que o sr. teria feito diferente?
Nosso movimento é um movimento social, dinâmico, complexo e também tem suas contradições. Certamente cometemos muitos erros ao longo dessa trajetória. Mas sempre foram erros coletivos. O MST não depende de uma ou outra pessoa, ou consultor, ou ideólogo ou livro-guia. Apreendemos estudando com a experiência dos outros e com nossa prática.
Vamos procurando melhorar a prática, a partir da avaliação permanente e de forma coletiva de todas nossas atividades e ações. Muitas coisas poderiam ter sido feitas diferentes. Mas não sabíamos fazê-las melhor antes de fazê-las.
Por que a concentração de terras é tão grande no Brasil?
O censo agropecuário de 2006 revelou que a concentração da propriedade da terra continua crescendo em todo país. O índice de concentração é maior do que era em 1920, quando recém havíamos saído da escravidão, com direito exclusivo da propriedade aos brancos oligarcas.
A razão principal é que o capital tem uma lógica própria de funcionamento, que vai comprando terra, comprando terra. Cada vez que aumenta o lucro na agricultura, aumentam os preços da terra e aumenta a concentração. Essa é a lei do capitalismo.
Temos uma Constituição que determina que, em nome da sociedade, deveríamos distribuir a propriedade da terra e subordiná-la a uma função social. No entanto, os governantes dos três Poderes sempre foram muito promíscuos com os grandes proprietários de terra e nunca tiveram coragem e poder suficiente para colocar em pratica a Constituição.
No governo Lula houve embate entre ruralistas e a esquerda. Dentro do ministério e no Congresso, onde a bancada ruralista apoiou o governo. O sr. acha que essa divisão permanece no governo Dilma? Quem vence essa disputa? Qual é a força do MST e a dos ruralistas neste governo?
De fato, os latifundiários e o agronegócio foram muito hábeis politicamente. Eles apoiaram o Serra, nos votos, com dinheiro, mas se dedicaram a eleger muitos parlamentares e a garantir o ministro da agricultura no governo Dilma.
Nossa burguesia agrária é lúmpen. Quer ganhar dinheiro sempre mamando nas tetas do Estado, com financiamentos, com multas não pagas, desrespeito da lei ambiental e outras benesses.
Mas acho que agora, no governo Dilma, há uma correlação de forças mais pendente para o campo popular. Como a prioridade do governo é superar a pobreza, não há como superar a pobreza sem apoiar os pobres para que saiam dessa situação.
Por outro lado, passados esses 20 anos de neoliberalismo, acho que as forças populares estão recuperando o fôlego e percebendo que apenas as mobilizações de massa podem exercer uma pressão social para mudanças.
E aumentarão as mobilizações certamente no próximo período. Portanto, espero que possamos vencer o atraso dos ruralistas, que só pensam no seu lucro.
Qual sua opinião e expectativa em relação ao novo Código Florestal em debate no Congresso?
O agronegócio está usando o projeto de lei do deputado Aldo Rebelo [PC do B-SP] para alcançar dois objetivos básicos. Um é não pagar R$ 8 bilhões em multas que o Ibama aplicou por crimes ambientais.
Em segundo lugar, liberar as áreas de fronteira agrícola da Amazônia e Cerrado para o capital internacional se apoderar.
A partir desse objetivo básico, o projeto do Aldo se aproveitou do problema que existe entre os pequenos proprietários, que também não respeitaram a lei e estão inadimplentes por terem desmatado até o rio, córregos ou topo das montanhas.
Assim, o projeto dá anistia para todos. E dá direito aos pequenos de não respeitar as margens de rios e topos de montanhas.
Estabelece que até 4 módulos não precisa ter reserva na Amazônia e no Cerrado. Acontece que 4 módulos na Amazônia são 400 hectares. Quem tem mil basta dividir os imóveis em três e ficaria livre para desmatar tudo e legalizar a retirada da madeira.
Nós defendemos a manutenção do código. O governo tem que cobrar as multas dos grandes proprietários infratores e não aceitar mais esse calote. E criar um programa de fomento, em que o governo pagaria para os pequenos agricultores reporem a floresta nas margens de rios e topo de montanhas, que recarregam o lençol freático.
Se passar o projeto Aldo, toda a sociedade brasileira pagará um alto preço para aumentar o lucro de meia dúzia de fazendeiros.

O sr. tem feito críticas em relação ao Incra. Por que o sr. diz que há loteamento no órgão? Quais são os interesses em jogo?

No governo Lula, assim como em todos os anteriores, os cargos do Incra eram loteados por corrente política partidária, de todos partidos da base do governo. O resultado foi um desastre. Imagine o Incra de Goiás sendo administrado por um dentista indicado pelo PTB? Que aliás foi escolhido, entre outros, em sorteio. É verdade. Acredite.
Colocaram os nomes dos pretendentes num copo e retiraram. Ora, isso é escárnio.
Nós dissemos ao governo Dilma: moralizem o Incra. Coloquem gente séria, competente, técnicos com compromisso com a reforma agrária. E espero que ela cumpra, porque é uma necessidade da sociedade e do seu governo.
Por que o sr. tem condenado o uso de agrotóxicos? Os assentados do MST não usam esses produtos?
Os assentados usam muito poucos venenos. Talvez algumas regiões do Sul que usam na soja.
Os agrotóxicos são venenos de origem química, não degradáveis, que matam a fertilidade do solo, contaminam a água e permanecem nos alimentos que vão virar doenças nos estômagos. É um problema de saúde publica.
Em Lucas do Rio Verde de Mato Grosso, o veneno está presente até no leite materno das mulheres, de acordo com estudo médico.
A Anvisa informou que há 20 produtos alimentícios não recomendáveis para consumo. Mas os consumidores não sabem disso, porque não consta nada no rótulo ou na embalagem na compra de batata, tomate, pimentão, uva,arroz, óleo de soja etc.
Por isso, participamos com mais de 50 entidades nacionais, de movimentos sociais, universidades e pessoas de órgãos do governo, como Anvisa e Fiocruz, na realização uma grande campanha de conscientização para combater o uso de agrotóxico.

Desmatamento e transgênicos sempre foram alvos de suas críticas, mas muitos assentamentos desmatam e usam essas sementes geneticamente modificadas. Por quê?

Poucos assentados usam sementes transgênicas. Alguns incautos que plantam soja.
As sementes transgênicas destroem todas as demais sementes, não conseguem conviver com a diversidade. Só produzem combinadas com uso de venenos. E ferem a nossa soberania nacional, pois todas as sementes transgênicas são de propriedade privada de algumas empresas transnacionais, como a Monsanto, a Bayer, a Syngenta.
Há dez anos havia mais de 40 variedades de soja no RS. Agora só tem a soja round-up da Monsanto. E os agricultores pagam mais de US$ 100 milhões por ano de royalties para a Monsanto, que não lhes vende sequer um grão de semente. É royalty apenas pelo uso.
Nos somamos a centenas de entidades na defesa da uma política de desmatamento zero. Temos ainda no Brasil mais de 130 milhões de hectares usados pela pecuária ou não usados que poderíamos incorporar à agricultura sem derrubar uma única árvore.
O desmatamento só interessa aos madeireiros, especuladores e à meia dúzia de fazendeiros atrasados, os gigolôs da natureza, como o povo os chama, que querem enriquecimento rápido, com um custo social altíssimo.
Todos sabemos que os desastres como o que ocorreu na serra fluminense têm relação com desmatamento e desequilíbrio da Amazônia. Mas quem vai ser responsabilizado por aquilo?

Qual é o melhor assentamento da reforma agrária e quais são as razões de sucesso? Qual é o perfil do assentado?

Em cada Estado brasileiro há diversos assentamentos em muito boas condições.
A razão do sucesso depende das condições objetivas: ter terra boa, proximidade do mercado, capacidade de colocar agroindústria, acesso a políticas públicas. E as razões subjetivas. Povo com consciência social, universalização da educação escolar nessas áreas.

Qual o seu argumento para convencer as pessoas a invadir? Qual o perfil das pessoas acampadas?

Há diferença entre invadir e ocupar. Os trabalhadores ocupam áreas improdutivas para pressionar o governo a aplicar a lei da reforma agrária. Por isso, não é crime. É um direito. E o fazem por absoluta necessidade.

Não houve, em 25 anos de MST, nenhuma fazenda colocada na reforma agrária pelo governo sem que os trabalhadores tivessem ocupado. Se o governo acelerasse a reforma agrária, não precisaria ocupar.
Já invadir é o que fazem os fazendeiros, quando se apropriam de áreas públicas, para ter lucro, beneficio pessoal, objetivando apenas enriquecer. E muitas vezes fazem até em áreas indígenas, como dezenas de fazendeiros paulistas fizeram roubando as terras dos Guaranis, em Mato Grosso do Sul.

Nos últimos anos surgiram outros movimentos pela reforma agrária. Por que há essa divisão? Ela não enfraquece o movimento?

Somos um país continental, com uma população de 16 milhões de trabalhadores agrícolas. É natural e até necessário que surjam diversas formas de luta, de organização, de movimentos.
O MST nunca quis ter o monopólio da luta pela reforma agrária. Ao contrário, quanto mais gente se organizar e lutar melhor.
No entanto, defendemos que os movimentos precisam ter caráter nacional para atuar melhor na política, na luta de classes e desenvolver a consciência de classe. Pois se ficarem em nível local, municipal acabam reféns de interesses eleitoreiros, de políticos oportunistas.
Tivemos poucos casos de dissidência, em que alguns líderes locais quiseram organizar seus próprios movimentos. Alguns deles foram afastados do MST, porque sua prática não condizia com nossos princípios.
OUTRO LADO
Em resposta às afirmações de Stedile, Kátia Abreu afirmou que “jamais” praticou “ato criminoso na vida pública ou privada”.
“Não debato com agentes do crime que tentam se impor pela violência, afrontam o Estado de Direito, cometem crimes em série e desprezam a democracia. Tenho orgulho da minha história e dos meus princípios”, disse.
Procurada pela reportagem, a Cutrale não foi localizada para comentar as declarações de Stedile até o encerramento desta edição.
PS do Viomundo: Para entender a nova etapa da luta do MST, que sintoniza o movimento ainda mais com os interesses da sociedade, ouça esta entrevista. Garanto: é mais esclarecedora que o festival de obviedades com objetivo de criar polêmica e vender jornal que vocês acabaram de ler.