quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os professores e seus mestres



“Nobre jornalista, depois de muito choro, resolvi escrever para aliviar a dor que sinto na alma. Escolhi o papael como meu confidente e você como interlocutor. Eis minhas reflexões.
OS PROFESSORES E SEUS MESTRES
Mestres!
Hoje os procuro, pois lembrei-me de vocês.
Quantas aulas, ensinamentos
que pensei terem ficado para trás
pensei que eram meras lembranças do passado.
Quantas aulas
Quantos ensinamentos
Quantas palavras que hoje sinto na pele
Quanto sofrimento que pensei apenas ter visto nas lamúrias e gritos dos escravos
No poema de Castro Alves.
Como me lembro daquela poesia forte
daquela súplica:
“Senhor Deus dos desgraçados
Onde estais que não me escutas?”
ou
a desesperança de Drummond em:
E agora José?
A festa acabou
e, arrisco-me a completar
A eleição passou
A caravana festejou
E a realidade para oprofessor se apresentou.
Como é difícil, mestre!
Abrir mão de nossos sonhos e repetir Bethânia em:
Sonhar mais um sonho impossível
lutar quando é fácil ceder
(…)
sofrer a tortura implacável…
Mestres,
Pensamos lembrar vocês
nas nossas vitórias
nos nosso direitos de cidadãos como vocês tanto pregaram
nos exemplos de retidão
na humildade
no valor da palavra empenhada
no respeito
na dignidade
na justiça que não se vende e não se compra
e a cima de tudo na força da palavra EDUCAÇÃO.
Felizmente vocês me ensinaram o valor de tudo isso,
mas, infelizmente hoje, toda a virtude aprendida
repousa apenas nos velhos livros de moral e cívica de suas aulas.
Agora, impera a nossa desvalorização
o descaso
o descrédito
a desesperança
a injustiça
o desrespeito
a insignificância de ser professor
o pouco caso com a EDUCAÇÃO.
Meu Deus,
nunca pensei que os versos de Fagner pudessem fazer tanto sentido
pudessem imprimir em mim
a secura, a fragilidade do ser
a possibilidade de ser…
“Se hoje sou deserto
é que eu não sabia
que as flores com o tempo
perdem a força
e a ventania
vem mais forte…
Tão forte que arrasa tudo o que vem pela frente
me coloca à margem do real sentido de educar
e, silenciosamente, me rouba de mim mesma.
Tdo isso mestres,
faz-me lembrar que hoje somos professores
impotentes
sem voz
sem brilho nos olhos
sem esperança do cumprimento de leis (naquele tempo isso era sagrado)
com sorriso apagado
consequência de não termos levado a sério o que Drummond, em tom de brincadeira, escreveu:
“Mundo, mundo
vasto mundo
Ah, se eu me chamasse RAIMUNDO
seria apenas uma rima
Não uma SOLUÇÃO.”
Queridos mestres!
Ouçam o meu desabafo e me perdoem, porque
eu lhes perdoo por não terem me ensinado a não ser professor.
Perdoo-lhes porque sei que, naquela época, vocês não conheceram o que é, hoje,
a DOR e a DESESPERANÇA de ser professor.
Perdoo-lhes, porque como vocês nos ensinaram, só podemos ensinar aquilo que aprendemos.
Essa não foi a realidade de vocês,
mas, inacreditavelmente, é a nossa.
Sou professora, somos professores.”

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